Uma exposição que levou 30 anos para ser construída homenageia o poeta Vinicius de Moraes. O Haver – Pinturas e Músicas para Vinícius é um projeto idealizado pelo artista gráfico Elifas Andreato, que chega a partir do dia 18 à capital paulista. Baseados no poema que dá nome a mostra, 15 músicos, entre eles Paulinho da Viola, Toquinho, Chico Buarque e Martinho da Vila fizeram composições especialmente para lembrar o centenário do nascimento do também músico e diplomata, que ficou conhecido como Poetinha.
Em 1974, Andreato desenhou a capa do disco de Toquinho e Vinícius, quando conheceu a música O Filho Que Eu Quero Ter. A composição fez com que o ilustrador repensasse decisões em relação à sua vida. “Eu não ia ter filhos. Tive uma infância muito ruim, com muitos irmãos, pobre, enfim”, relembra sobre seus sentimentos à época.
Comovido pela canção, Elifas resolveu conversar com o poeta sobre o assunto. “Depois da conversa com o Vinicius, eu achei que para entender aquilo que ele tinha me dito, eu deveria ter filhos. Em 1976, Bento nasceu. Em 1978, nasceu Laura e [foi o começo da] a minha família, hoje com netos. E fiquei devendo isso ao poeta”, conta sobre como surgiu a ideia da homenagem que pode ser vista na Caixa Cultural, na Praça da Sé (centro).
“Foram necessários quase 30 anos para pagar a dívida com ele”, disse sobre a exposição que tem ainda retratos em aquarela do poeta feitos em parceria com os músicos. O processo também foi registrado com fotos e vídeos, que também compõem a exposição. Além disso, Adreato pintou uma tela em tinta acrílica para cada uma das 15 estrofes do poema Haver. “Eu considero esse poema como um inventário que o poeta fez da própria vida. Mas que serve para cada um de nós”, explicou.
Para o artista, o tempo de maturação foi fundamental para a construção do projeto. “Eu passei quase três décadas para fazer isso. E a conclusão que eu cheguei, eu estou com 68 anos, idade com que o Vinícius nos deixou. Eu digo “poxa, eu não poderia ter feito isso antes.” Só agora eu tenho uma compreensão melhor daquilo que está contido no poema”, admitiu.
Com o tempo, Andreato disse que foi capaz de entender com profundidade as sutilezas de Vinicius, como o uso recorrente da palavra “resta” ao longo de todo o texto. “É evidente que há no poema uma certa nostalgia de uma vida não vivida ou de uma impotência diante da brutal realidade que esmaga a poesia, a ilusão e os sonhos”, disse o ilustrador, que também é responsável por capacitar os monitores do projeto. “Eu treino os monitores para que eles falem do Vinicius. Principalmente, que eles entendam aquele conjunto de obras e estrofes de um poema magnífico”.
O resultado, espera Andreato, é que as pessoas saiam da experiência marcadas de alguma forma. “Elas entram, veem aquilo, e se tiverem atenção para, junto com os monitores, refletirem sobre o que está dito, eu acho que o meu objetivo foi alcançado”, disse.
A mostra já passou por Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília.