Marília

Ainda o professor

As manifestações de professores foram algumas das mais amplas, populares e reprimidas ações de trabalhadores na década de 80, na onda de redemocratização do país. Vem dessa época a força da Apeoesp. Muito professor tomou borrachada nas costas pedindo melhorias para a educação. Lá vão 30 anos de história e a discussão sobre valorização dos professores mudou nada ou muito pouco.

A valorização salarial não existe. As amarras da rede pública criam sistema em que para virar salário digno é preciso ter gratificações, prêmios ou cargos, quase sempre influenciados por atuação e simpatia política. Discussões como plano de carreira arrastam-se sem solução.

No setor privado o professorado vive, como qualquer outro ramo de negócios, relação de ambiguidades. Á empresas sérias, que vendem qualidade, exigem qualidade dos profissionais, até pagam e valorizam por isso. E cobram dos consumidores, ou seja, só quem pode pagar tem. E há as empresas privadas que não estão lá muito aí pra coisa, ainda que o “produto” seja educação, assim como acontece com saúde. É empresa, não é assistência social.

As reivindicações não mudam porque o eleitor não muda, porque todo mundo a qualquer momento vai dizer que educação é prioridade mas quantas pessoas votam efetivamente pensando nisso? Quantos conhecem a lei de diretrizes e bases? Quantos sabem pelo menos as diretrizes e linhas pedagógicas usadas na escola de seus filhos?

Um grande número de pais e mães deixam o filho em tempo integral na escola porque trabalham e aproveitam a entrega de merenda para alimentar os filhos. A relação com a escola acaba na entrega, na porta. A escola não é centro de interação, não se envolve e não envolve a comunidade. Como é que esse pai e mãe vão conseguir discutir a qualidade de ensino, o nível dos professores, conhecer projetos de melhoria da estrutura, enquanto a reforma mais comum em escolas públicas da periferia nos grandes centros é por cercas, grades portas de aço para evitar furtos e arrombamentos.

O poder público sabe como fazer – e tem a verba pra fazer. O poder público faz ensino da melhor qualidade nas universidades. Pegue a lista das melhores, que tem USP, Federal de Minas, Federal do Rio, Unicamp e Unesp entre as líderes. São professores doutores, vanguarda na criação e pesquisa no país. É por isso que os alunos que pagam as melhores escolas particulares até o ensino médio buscam as melhores universidades públicas. Pelo mesmo motivo,

É possível criar programas de valorização. É possível ter professores melhores e melhor estrutura nas escolas de ensino fundamental e médio. O governo, os secretários, subsecretários, adjuntos e coordenadores de educação sabem o que é preciso.

Como é possível também criar programas paralelos de produtividade, de desemprenho, de capacitação dos educadores. E os manifestantes do lado sabem que uma escola com alta qualificação, salários bons e estrutura deve exigir professores mais preparados.

Todo mundo sabe. Não anda, porque quem decide não quer nem saber.

Sei lá com quem essa gente aprendeu a ser assim.