Durante deslocamento por uma rodovia da região, presenciei uma equipe da Polícia Militar Rodoviária Estadual paulista em um bloqueio e, em conversa com os mesmos, acabamos por tratar das novas regras de autuação no trânsito (para saber mais, clique aqui).
Ouvi seus pareceres e de alguns motoristas que pararam, sendo, em quase a totalidade, empregado o argumento de que, agora, a coisa vai. Perguntados o porquê, a resposta que predominou foi o fato de que mexe no bolso do cidadão.
Em verdade, o recente arrocho se deu, conforme divulgado pelas autoridades, por uma simples razão: mata-se e morre-se demais no trânsito brasileiro, principalmente em razão do abuso. O maior deles, em que pese o esforço governamental, já possui rigor e regulação suficientes para o terem exterminado de nossa realidade. Pelo visto, não deu certo.
Só para que tenhamos uma leve percepção, no ano de 2011, mais de 42.000 pessoas morreram em razão de acidentes no trânsito. Quase 20% delas, ou seja, 8.000, foram provocados por condutores alcoolizados: um quinto do total. Lembremos: a tão afamada Lei Seca (Lei nº 11.705/08) foi promulgada em junho de 2008, portanto 03 anos antes dos dados em questão. A simples lógica já mostra o óbvio: a aplicação da lei se abrandou.
Poderíamos, aqui, sermos mais uma voz junto àqueles que alegam a necessidade de a aplicação da lei voltar a ser fortalecida – certamente teríamos nova redução afim ao ano de 2014. No entanto, colocar somente “na conta do papa” (do Estado e suas autoridades) é compactuar com o pensamento simplista de que devemos sair doando bolsas assistencialistas, tão discutidas nas últimas eleições e tão onerosas ao bolso de uma classe média: é acreditar que, passando a responsabilidade para outros – principalmente ao Estado -, a coisa voltará a funcionar.
Dignidade ensina-se; se conquista: não se dá. Nenhuma autoridade tem esta capacidade e, se pensa o contrário, ou é ingênua ou tem alguma forma de interesse com tal discurso. Dirigir alcoolizado é, sim, responsabilidade direta de quem pratica o ato e não deve ser alvo de maiores investimentos em mais recursos humanos e materiais para fiscalizar, uma vez que isso aumentaria o custo do Estado e, consequentemente, o peso no bolso de quem contribui pagando seus impostos. Passou do momento de mimarmos marmanjos que se portam como adolescentes malcriados: se assim foram, infelizmente perderam suas oportunidades ao seu tempo e, perdidas, devem ser alvo, sim, da aplicação dura, não só da lei, mas de forte punição moral. Matando, há que assumirem suas responsabilidades, não serem protegidos por quem quer que seja, escondendo-se sob o manto da mentira e da erística negativa, que é argumentar com má fé, valendo-se de justificativas capciosas, cuja intenção é simplesmente nos enganar.
A ética do mau-caráter, não tendo sido construída com o respeito aos direitos dos outros, pouco se preocupa com a perda da carteira de habilitação, de pontos ou pagamento de multas.
Ao bom moço, especificamente aquele que ainda tem que arcar com os custos serviços que se prestam mais ao canalha que ao próprio pagador (já que este, na maioria dos casos, ainda paga por serviços paralelos e privados na educação, transporte, saúde…), somente ficará a dor da perda de quem ama.
Marcos Boldrin, mestre e especialista em segurança pública
http://marcosboldrin.com.br