Marília

Eles plantam, a cidade colhe

Eles plantam, a cidade colhe

É um engano pensar que famílias ocuparam uma área vazia e abandonada da prefeitura em um terreno que hoje provoca diferentes ações de despejo. Não houve abandono. Havia ali uma plantação municipal. Diferentes mandatos semearam e o prefeito Vinícius Camarinha tem boas chances de colher. Vai que é tua, prefeito, uma lavoura de problemas.

O primeiro problema está plantado, colhido e florescendo pela cidade toda: a falta de comunicação com a coletividade. O poder público tem dificuldade em conversar com o cidadão.

Você pode achar diferentes causas para esse problema de relacionamento: prepotência, incapacidade, desinteresse, falta de vontade, má fé, depende de quem está no poder público e dos governos mais ou menos acessíveis.

Mas quando os serviços públicos não falam com o próprio serviço público vira uma avalanche de prejuízos. Caso clássico da ocupação de área destinada a lazer na zona sul da cidade.

Um bairro de quase 40 anos ainda não tinha praça. Tinha o espaço, a obrigação de fazer e a absoluta falta de vontade. É o poder público sem conversar com o cidadão. Plantou um problema: abandono.

Começaram a ocupar a praça de forma ilegal e não se fez nada. O poder público seguiu sem falar com o cidadão. Plantou outro problema: o abandono somou-se a privilégios indevidos para cidadãos e o que era falta de investir virou falta de fiscalizar também.

Aí as casas ilegais ganharam luz, água, construções, portão eletrônico e até empresas, que estão lá vendendo, comprando, dando nota fiscal. E poder público deixou de falar com ele mesmo. E aí plantou baderna.

Como é que a casa ilegal tem luz legal? Água? Empresas? Cadê a fiscalização?

Como é que a cidade pode pensar em calçadas ideais, serviços ideais, fiscalização de posturas se o poder público não consegue nem impedir os próprios serviços públicos de atender construções absurdamente ilegais?

Não é favela com gatos de energia, não é projeto social atendido com rede elétrica para não pegar fogo. São casas e empresas que podem estar até em negociação por aí, à venda ou locação, com postes e relógios de luz, abastecimento, serviço de correios e tudo mais.

Pior. Em 2011 o poder público municipal descobriu a irregularidade.

E porque é que a ocupação continuou desde 2011? Só para regar e adubar os problemas.

O que era um caso de ocupação irregular virou uma nova plantação para a nossa enorme safra de problemas e a prefeitura vai colher vários deles nos próximos anos. Não é culpa de isolada de prefeito nenhum, ou de secretários, e ao mesmo tempo é culpa de todos.

A cidade tem agora duas opções ruins: faz corpo mole e correr o risco de ser penalizada ou vai tomar medidas e dizer a quase 20 moradores que suas casas serão demolidas.

Para onde eles vão, quanto vão perderem patrimônio, como as famílias e filhos vão ser atendidos nem Deus sabe – a prefeitura também não, nem deve pensar nisso. Mas deveria. É tudo semente de novos problemas que vêm por aí.