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"Celeiro de talentos", cidade espera estrututra para revelar ídolos no MMA

"Celeiro de talentos", cidade espera estrututra para revelar ídolos no MMA

Falta pouco para Marília colocar atletas no circuito nacional e internacional de MMA e lutas, mas falta apoio e estrutura para atravessar esse processo. A avaliação é do treinador Rodrigo Seabra, um lutador que fez carreira no Japão, treina com grandes nomes e é chamado de mestre por aproximadamente cem alunos na cidade. 

Ele mesmo treina alguns, outras academias têm bons nomes. Além de vencedores, todos eles podem ser bons exemplos, estímulo a praticar esportes, treinar com disciplina, filosofia de vida. E para todos, segundo ele, falta apoio.

Um caso é o lutador Tayron Pedro, 20, que fez cinco lutas e venceu as cinco. Foi o lutador da cidade que chegou mais perto da aprovação na última seletiva do TYF Brasil. Há pelo menos mais dois atletas que participaram e seguem a trilha do sucesso – Alex Bassani e Everton Monteiro.

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Seabra, 39, passou quase 14 anos lutando no Japão, onde aprendeu jiu-jitsu e fez contatos que permitem a ele ser um difusor de técnicas e da modalidade. É faixa preta na modalidade, graduado em Muay Thai, treinou judô e agrega a tudo isso formação pessoa, disciplina, respeito aos mestres.

É uma filosofia de vida que segundo ele ajuda quem quer lutar, quem quer perder peso, já afastou viciados das drogas e ajudou muitos ex-presidiários. Treinar nas academias mais sérias, nas equipes mais estruturadas, é uma opção para curar ansiedade, raiva, buscar controle emocional e preparo físico.

O treinador nunca fez faculdade e no começo da carreira dividia seu tempo entre a academia e um trabalho de até 11h em uma fábrica no Japão.  “Sou lutador da velha guarda, não havia tecnologia, estrutura. Você fazia na raça, treinava quando podia, não havia programa de nutricionistas, equipe multifuncional. Hoje profissionalizou o atleta sem essa estrutura vai ter muita dificuldade”, explica.

E a estrutura custa dinheiro. Atingir nível profissional exige dedicação e foco. Treinar nos horários certos, com alimentação certa, suporte em diferentes tipos de atividades: técnica, preparo físico, acompanhamento de fisioterapeutas e nutricionistas, entre outros.

“Marília é um celeiro de atletas, não só em artes marciais, em outras modalidades também. Sempre foi, revelou muita gente . Mas já foi melhor. O maior desafio é falta de recursos, é o maior entrave.”

“SHOWMAN”

Rodrigo Seabra diz que lutador de alto nível não é mais só aquele guerreiro que defende uma academia, um estilo. “A exigência é grande, o atleta é um show man, importa o que ele dá em show, todo mundo vai assistir.” Para entrar neste nível é como entrar no showbusiness: só quem talento aliado à estrutura para ser visto.

Começa com a estrutura mínima. Para dedicação que a profissionalização exige, não dá para viver de bico ou ter outros empregos. E aí custa dinheiro. “Não é ganhar camiseta, calção, tênis. O atleta precisa viver disso, precisa de dinheiro. Não é dar suplemento, apoio na academia. Ele tem uma vida normal, é uma pessoa que precisa pagar contas, ter a vida com a família.” Outro problema é a falta de competições na cidade. Os atletas precisam viajar para aparecer, fazer cartel. O custo aumenta.

“Aí a gente junta, cata um pouco aqui, um pouco lá. Ajuda por aqui é uma família, todo mundo treina, torce, vive junto estes momentos. Como eu disse: é raiz. Eu tenho isso no meu treinamento, tenho meus mestres, procuro e recebo suporte deles e preciso devolver em trabalho correto, em levar essa relação aos alunos. O treinamento dá isso, é filosofia de vida.”

O resultado aparece. Além de movimentar só em suas equipes quase cem pessoas em três academias – RBV, Body  Trainers e Físico Marília –  a cidade recebeu em novembro seminário que trouxe como orientador o mestre Vander Valverde, head coach do Team Nogueira, no Rio de Janeiro, onde treinam nomes como Minotauro, Minotouro e revelações do UFC (Ultimate Fight Championship).

A diferença é que se viver o apoio essa passa a ser uma via de mão dupla e a cidade passa a exportar os talentos que vão formar novas turmas por aí. Os lutadores estão no tatame, os mestres estão nas academias, falta pouco para a cidade ser o celeiro de atletas que Rodrigo Seabra vê.