Tudo muda, se você mudar

Encerro o ano com uma confissão: sempre achei uma bobagem imaginar a mudança de calendário como prenúncio de novos tempos e de novas possibilidades, motivos de esperança e expectativas. Afinal, é uma mudança de calendário. Errei. É possível achar o caminho para pensar com a tal da esperança, ir atrás de algum otimismo. 

Minha tendência era até há pouco tempo pensar que, tirando o fato de estar mais velho, não acordo no ano novo com um mundo novo, a não ser eventualmente uma nova ressaca, talvez uns quilos e alguns tostões a menos, certo? Errado. Especialmente neste ano. O mundo muda se você mudar ou tomar medidas a partir da mudança de calendário.

Está cansado da política em 2014? OK. Vai fazer o que diferente em 2015? Quer dica: com o ano novo começam novos mandatos e novos governos no Estado e na União. São novos prazos, novos ministérios, novos secretários, novos acordos. Como vai ficar sua relação com esta gente toda? 

Exemplo: imagine que neste novo ano os novos ministros começam o ano com gabinetes entupidos de mensagens de cidadãos em todo o país. Propostas públicas dos novos empossados cheguem para votação com massa de protestos, cartas aos deputados – que a partir de fevereiro serão novos também?

Ah, você não quer saber de política, quer pensar na mudança na sua vida. Bem, as mudanças políticas vão chegar à sua vida de qualquer jeito – seja na forma de aumentos de Ônibus em dias de festa para evitar tumulto, seja na forma de tarifas mais altas em água ou luz – mas você pode pensar no ano novo também como mudanças da vida privada.

Um batalhão de jovens com 17 anos chega ao terceiro colegial, ao momento de escolher carreiras e definir uma base para seu destino profissional. Eles terão um ano para concluir a preparação e terão quatro horas deste ano para provas que podem alterar seus futuros. Vai dizer que eles já deveriam chegar aqui com boa preparação. Certo. Mas a mudança do calendário dá o start nos prazos para estudar, fazer provas, matrículas. A contagem do tempo muda. 

Na outra ponta do curso, um outro batalhão deixa cursos em todas as áreas e vai para as ruas atuar como profissionais. Vão estar inclusive em serviços públicos, atendendo milhares e milhões de cidadão.

Um grande número de trabalhadores vão usar a nova contagem para chegar aos necessários anos para aposentadoria. Uma infinidade de servidores públicos vai atingir limite de prazos para ganhar novos benefícios previstos em carreiras.

A virada do calendário vai colocar patrões e empregados em negociação em diferentes categorias, mudar salários, custos em empresas, circulação de dinheiro.

Pacientes em tratamento, muitos desenganados que surpreenderam avaliações médicas vão ter um motivo a mais para celebrar. Não venceram só mais um dia. Eles viram passar um novo ano.

A virada do ano é só uma mudança de calendário. Você pode fazer uma interpretação técnica, fria, e ver que partir dela a rotina de nossa organização social se movimenta. Ou pode aproveitar a festa, fazer uma mais piegas e emotiva e dizer que por esta movimentação de calendário passa a vida.

Fique à vontade para escolher e decidir se você muda algo junto com o calendário ou nao.