A análise das contas municipais – e seu excesso de arrecadação – faz pensar que apesar de toda a fortuna que circulou além do que a viúva queria, não foi mesmo tudo como eles planejaram. Os números – R$ 52 milhões acima do orçamento aprovado – escondem o que poderia ser chamado de decepção: a prefeitura esperava ter até R$ 114 milhões em excesso. Ao que parece, eles estão tristes e preocupados porque o excesso foi, por assim dizer, pequeno.
É a verba do chamado cheque em branco, um índice de excesso de arrecadação projetado e que todo o ano é aprovado para que o prefeito abra e use nas áreas em que quiser. Com isso, em 2014 o prefeito Vinícius Camarinha tinha autorização para gastar até 15% dos pouco mais de R$ 700 milhões previstos em orçamento. Não deu.
É assim: a lei já previa em 2013 que haveria excesso de arrecadação, todo mundo sabia e já havia até cláusula autorizando o prefeito a abrir créditos adicionais com esse dinheiro. Onde ele iria abrir? Problema dele, como é há muitos anos.
O que parte da cidade toda esperava era um rombo nas contas, já que falou-se tanto em perda de receita. Bem, não houve rombo – que a oposição provavelmente iria comemorar mais ou tanto quanto comemorou a chance de atacar o excesso de verbas.
Como a Matra anunciou e a cidade já sabe, o excesso ficou nos R$ 52 milhões. Já é um prêmio da mega sena, uma fortuna a ser gasta em serviços ou compras não previstos no plano de orçamento. O gabinete só achava que poderia ser um pouco mais.
Claro, não serve como explicação para a crise e nem como consolo para a cidade cheia de buracos, com péssima coleta de lixo e os velhos problemas de água. Mas dá para entender a preocupação dos nossos gestores. É menos da metade do que esperavam. Seria isso que a administração acostumou chamar “queda na arrecadação”, que na prática não caiu nada, cresceu? Só o cheque em branco ficou menor.
Dois pesos
Um número considerável de pessoas que gasta as redes sociais com ataques às mentiras do governo federal não fala absolutamente nada sobre política municipal. Assim como muita gente de “esquerda” que prega muito rigor na cidade é bastante condescendente com as barbáries federais. Pra resumir, o básico: não dá para levar a sério política feita na base de redes sociais.
Nem escrever nem somar
Aproximadamente 10% dos alunos que participaram do Enem não sabem ou não querem escrever – tiraram zero –. Os dados impressionam porque em uma pancada só descobrimos 529 mil brasileiros com ensino médio completo ou a completar e que não sabem ou não querem, depois de ir a uma prova, escrever um texto. É triste.
Ainda assim, são os dados do Enem, uma prova com mais de 6 milhões de inscritos, em nível nacional, que vai das cidades mais ricas aos menores municípios das regiões mais afastadas do país. Qual o índice de notas zero nos vestibulares públicos e particulares pelo país afora?
Quantas instituições publicam o número de notas zero? Quantas publicam a nota de todos os aprovados? Quantos estão entrando e até saindo da faculdade sem saber escrever direito ou sem saber fazer as contas direito?