Não sendo dado a superstições, não vejo problema algum com a sexta-feira 13, exceto pela proximidade de contas que vencem no dia 15, caso do glorioso IPTU. Mas esta sexta começou provocativa.

Por honra e graça do destino tive o prazer de nascer neto do escritor Osório Alves de Castro, o que me fez sobrinho de Osório Alves de Castro Filho, Osorinho, – entre outros familiares bacanas como se pode ser – uma figura de trato fino, ideias fortes, sem medo de remar contra a maré. E, claro, sem tempo para perder com a boa ou má fama de uma sexta-feira 13.

Tenha o leitor seus 70 anos, pouco mais, pouco menos, pode ter encontrado Osorinho com amigos, música, muitos carnavais, bailes da primavera, do Havaí e afins. Mas com certeza terá visto também na Alfaiataria Rex (na 9 de Julho), em encontros estudantis, comícios, discussões políticas. Homem de festa? Sim. Homem de ideias? Sempre.

Tivemos – nós, os familiares e amigos – a satisfação de ter os dois incontáveis vezes.

Em Marília, semeou sonhos e ideias que o acompanhariam a vida toda. Fez poesias para Aicram (a tia a Márcia), fez esportes, fez política, fez a base do que ele foi fora daqui, de onde saiu em véspera da ditadura.

Fora da cidade fez uma carreira de sucesso, daquelas que hoje em dia renderia depoimentos em registros históricos, notinhas sociais. Voltou algumas vezes em visitas a familiares e em homenagens ao pai, o velho Osório.

Não era apenas fã de música, amigos e ideias. Era um incentivador, que encheu a casa de instrumentos e pessoas, incentivou os filhos a tocar, cantar e reunir gente. A casa era transformada para festas, que invariavelmente terminavam em rodas de amigos e de Osorinho contando e pedindo histórias, dando e tirando informações sobre o mundo, as pessoas, as ideias, sempre elas.

E o que teria isso a ver com a minha, a sua, a nossa sexta-feira 13?

Osorinho deixou na cidade – além de amigos e familiares – um elo outro: o título do Yara Clube (onde também era frequentador assíduo) que descobri no final do ano passado.

E eis que hoje, dia 13, sexta de carnaval, recebo em casa a carta de transferência do título de Osorinho. Seguirá comigo, como a memória dele segue. Chega na sexta-feira de carnaval, que ele adorava.

Chega com uma triste coincidência: no dia em que completam-se nove anos de seu falecimento. São nove anos de um mundo mais chato, mais besta.

Estivesse vivo, Osorinho teria 70 anos. Foram 61, em que viveu intensamente suas paixões. Como fosse DNA, transferiu algumas delas aos filhos – especialmente por ideias – assim como recebeu dos pais, Osório e Josefa.

Acredito que o fiz saber várias vezes quanto aqueles momentos foram bons e inesquecíveis para mim. Não sinto débito com ele em relação a isso, embora tenha dívida em falta de ideias e iniciativas.

Uma dessas ideias, que Osorinho semeou em diferentes conversas, foi que eu editasse meu próprio jornal. Não editei. Edito um site, que ele nunca vai ver, mas que por diferentes formas incentivou. E agora tenho um título do Yara, onde de alguma forma ele vai estar sempre comigo. E tinha que começar em um carnaval, sexta-feira 13.