No Brasil a década de 1960 fervilhou desde o início. A rápida urbanização de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, e o crescimento da atividade industrial, desde o período anterior, nos governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, mudaram a cara e a vida nas cidades. Bastante acelerados entramos na era do automóvel, das obras urbanas e da sociedade de consumo de massa. Houve o estrangulamento da capacidade dos serviços públicos e novas demandas em educação, terra e emprego não podiam ser atendidas plenamente. Naqueles anos as campanhas em Defesa da Escola Pública (1961-1962), pelas Reformas de Base (1963-1964) e da Reforma Universitária (1967-1969) movimentaram as ruas, animaram rádios e jornais, o Congresso Nacional e a sociedade civil. Atento às mudanças sociais, o sociólogo Florestan Fernandes foi presença ativa, constante e destacada nos três movimentos.

 

A escola pública

A Campanha em Defesa da Escola Pública foi surpresa. No Congresso Nacional a tramitação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional parecia seguir normalmente, após viva atuação de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Darcy Ribeiro. A estruturação do sistema educacional brasileiro teria regras amplas e gerais para a ação e o planejamento nacional e flexibilidade administrativa e pedagógica local e regional. A reação conservadora desmantelou a proposta. Houve grande mobilização de estudantes, de entidades e de profissionais da educação em defesa da exclusividade de recursos públicos para o ensino público. O resultado foi que as escolas confessionais e o ensino pago abocanhariam boa parte daqueles recursos. Tinha início o descalabro educacional em que o Brasil se encontra até hoje.

 

Reformas, não!

As Campanhas pelas Reformas de Base e da Reforma Universitária completam o quadro de mobilização civil nos anos 1960. Visando a expansão da economia e a melhoria nas condições de vida e de trabalho o governo João Goulart apresentou amplo conjunto de reformas. O objetivo era dinamizar as bases da vida nacional com reformas que iriam da agrária à tributária. Novamente a reação conservadora ergueu-se e, com mais força, veio o golpe de 1964. Foi sepultada a revolução democrática no Brasil. No fim da década os debates sobre a Reforma Universitária lançaram estudantes, professores, sindicatos e, atrás deles, policiais e militares, às ruas. A abertura da universidade às necessidades e aos problemas nacionais foi alvo de polêmicas. A ditadura militar liquidou o assunto com prisão e morte de lideranças e de militantes. O acordo MEC-USAID, firmado com os Estados Unidos, selou o destino do ensino superior. A Reforma Universitária virou fumaça e Florestan Fernandes passou a ensinar na Universidade de Toronto, no Canadá.