No Brasil nos habituamos com autores e reportagens do chamado jornalismo investigativo. Eles nos proporcionam bons serviços e lições de utilidade pública, de cidadania e de democracia. Na década de 1970, jornalistas visitaram inúmeras vezes o traçado, as obras e o entorno da rodovia Transamazônica. Obra faraônica e carro chefe da publicidade marota do governo militar. O caos social e a destruição ambiental, desde a abertura desta rodovia até a exploração de minérios em Carajás e Serra Pelada, na década de 1980, encheram páginas de livros, jornais e revistas, o noticiário de televisão e o cinema. Teresa Urban (1946-2013) é emblemática desta prática jornalística na área do meio ambiente.
Teresa Urban
Os seus livros e militância testemunham a ação, disputas e realizações individuais e coletivas, bem sucedidas ou não, na salvaguarda do patrimônio ambiental em nosso país. Atuando profissional e socialmente no Paraná, sempre de olho no Brasil e no mundo, Teresa Urban abriu canais de comunicação com a opinião pública que vivia tolhida de análises críticas e de informações livres.
O jornalismo ambiental ajudou a furar o cerco ao expor contradições do modelo econômico e do discurso ufanista dos militares e do grande capital. O jornalismo ambiental revelava ainda desmandos e abusos de poder de autoridades governamentais, de empresas, mineradoras, pecuaristas, madeireiras e de construtores na rapinagem de terras, recursos naturais, áreas litorâneas e do solo urbano.
Crítica social e cidadania
A crítica embutida no jornalismo ambiental – falta de planejamento, parcos recursos materiais, humanos e financeiros, violência social, perdas na qualidade de vida – permitiu a reflexão sobre a necessidade e as possibilidades de mudar a vida e os rumos no Brasil. E a sociedade brasileira foi à luta. A tragédia que se abateu sobre o litoral norte de São Paulo, com a expropriação das terras e de posses da população local, como pescadores, indígenas e agricultores, seguida da disseminação da pobreza e da destruição de ecossistemas marinhos, costeiros e terrestres, vacinou o nascente movimento ambientalista.
A mobilização social e política, contando com o apoio partidário da oposição aos militares e seus agentes estaduais, foi surpreendente em defesa da Juréia e do lagamar de Iguape, Cananéia e Paranaguá, ameaçados por projetos de energia nuclear, agropecuários e de turismo predatório no litoral sul de São Paulo e no litoral norte do Paraná.
Jornalismo ambiental e democracia
O último meio século foi de muita vontade, experiências de cidadania, de reforma e de atuação política institucional e grande ativismo social, nunca vistos antes na história brasileira. O movimento ambientalista, pouco expressivo numericamente, caminhou rápido e objetivamente no enfrentamento dos grandes e graves problemas ambientais no Brasil. Hoje, conservação da natureza e sustentabilidade ambiental são valores coletivos consagrados. A dimensão multi e interdisciplinar no conhecimento e na gestão do meio ambiente agrega diferentes profissionais e cidadãos de distintas identidades políticas.
O trabalho da jornalista e ambientalista Teresa Urban na imprensa e na esfera institucional, estatal e não-estatal, constitui valioso e diversificado acervo de experiências, informações e testemunhos da capacidade da sociedade gerir as suas escolhas coletivas e o seu destino de forma autônoma e eficaz. E mais, livre das tutelas econômicas, políticas e militares que tanto prejuízos provocaram ao meio ambiente e à qualidade de vida de gerações de brasileiros.