Seis anos de abandono do Teatro Municipal podem começar a mudar nos próximos dias, sem novas perdas de dinheiro do município. A obra, que em 14 meses deve consumir R$ 2,2 milhões, quase tudo em repasses do Estado, era o maior desafio na Secretaria da Cultura. Mas não e o único.
Faltam muitos outros sonhos altos, que não têm a mesma visibilidade da reforma e nem a mesma atenção nas ruas, mas estão lá, esperando convênios, verbas, oportunidades.
À frente desse barulho está uma advogada já conhecida na cidade como artista plástica, bailarina em grandes bandas, modelo de fotos e passarela e até boneca em animação de festas infantis. E é bom saber. A boneca ruge.
Taís Vanessa Monteiro, 41, disse nesta semana que reformar o teatro era uma questão de honra, lembrou fase como crítica do abandono do prédio em 2012 e disse ter descoberto no cargo como é fácil pintar.
Ela atravessou um mar de burocracia, exigências técnicas e oposição dentro da cidade para trabalhar na tramitação do convênio com o Estado, que vai tornar a obra possível.
Enquanto isso, era vista em eventos que vão do erudito ao concurso de Musa do MAC, de desfile de carnaval a inaugurações e exposições e de encontros oficiais em cima do salto a baile de carnaval com direito a fantasia em uma versão loira da Mulher Maravilha. Não economiza elogios para sua equipe, outros secretários e a todos os artistas da cidade. “Sem eles não teria conseguido nada.”
Ficou ainda no meio de um tiroteiro com a possibilidade de a cidade investir perto de meio milhão em um grande show de aniversário da cidade com a dupla Chitãozinho e Xororó. O show foi cancelado – talvez ainda aconteça, mas não há projeção de data – e a festa da cidade deve envolver série de eventos bem menores e menos polêmica.
Tais foi bailarina por dez anos, modelo em concursos de beleza – inclusive com um título, motivo de orgulho, o de “Garota Verão de Ocauçu” – e Musa do Circo, a mais tradicional e irreverente chácara de futebol da cidade, responsável por um desfile de rua e um baile de carnaval.
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Disse que sua relação com arte e eventos abriu portas na comunidade, mas foi entrava no mundo político. “Algumas pessoas reagiam como se dissessem ‘o que está menina esta fazendo aqui’. Eu acredito que em todos os relacionamentos existe uma palavra pequena, simples, que facilita muito: respeito. Sempre procurei respeitar, mas em política nem sempre é assim.”
O que falta fazer?
“Falta muito. Eu quero uma orquestra sinfônica, uma escola de artes, espaço para os artistas da cidade e reconhecimento do público. Porque há muita cobrança pelo teatro, mas vem uma peça no Sagrado e tem metade da platéia. Acontece um evento gratuito no Sei com 20 pessoas. O artista precisa do público, é isso que alimenta”, diz Tais.
Taís fala com a experiência de quem já esteve do outro lado do balcão. Até 2012 só ia à Secretaria da Cultura como artista. Chegou a pintar uma “tela protesto” contra o abandono do Teatro e só ganhou algum engajamento quando a prefeitura desligou na gestão passada a assistente técnica Denise Campos.
“A Denise ajudava todo mundo, aquilo foi um erro, uma injustiça muito grande”. Tais e um grupo de aproximadamente 25 artistas encabeçaram um projeto “Volta Denise”, que foi à prefeitura, à Câmara e aos candidatos – 2012 era ano eleitoral. Quando Vinícius Camarinha foi eleito e empossado a campanha continuou.
“Um dia recebi um telefonema e pensei ‘ deu certo, vão resgatar a Denise’. Mas na prefeitura recebi o convite para assumir a Secretaria”. Assumiu, enfrentou má reação dos artistas no início “alguns dos 25 diziam ‘você foi pedir o emprego pra Denise, voltou secretária e a Denise não’. Enfrentei julgamento que não esperava, sofri muito.”
GIRO MARÍLIA – A que você atribui o convite?
TAÍS VANESSA MONTEIRO – A minha atuação como artista, indicação técnica. Não tinha contato, não tinha vida política, não fui candidata a nada e não pretendo ser. Eu tenho tinta na veia. Não fui exatamente uma ativista, eu mais produzia cultura.
GIRO MARÍLIA – Como ficou a relação com os artistas depois, você reatou com todos?
TAÍS MONTEIRO – Sim, todos. E não só os 25, vieram muitos mais, o grupo hoje é grande, até porque pouco depois a Denise voltou. Sempre acreditei muito no dialogo, acho que se pode resolver com diálogo, acredito nisso.
GIRO MÁRILIA – Você acredita que deixa políticas públicas de cultura?
TAIS MONTEIRO – Não sei responder completamente a isso. O que posso dizer é que as deficiências que Marília tem são as deficiências que o Brasil tem. Tanto é que nós temos o plano municipal e o plano estadual de cultura a serem desenvolvidos, não estão prontos em lugar nenhum.
Mas é importante que o Estado vai discutir políticas culturais e escolheu Marília, o secretário vem a Marília para essa discussão. Então, por mais que a gente sinta que ta gatinhando, vê que não é deficiência só na nossa cidade. As políticas culturais estão sendo discutidas agora. Mas tem muito pra fazer. A Cultura tem que caminhar com a educação, fazer um link muito forte nisso.
Vejo um agravante muito triste. A informática é necessária, é maravilhosa mas nos afastou de coisas mais simples e que são valorosas. Muita gente fica no computador e não vai a um evento de capoeira, dança. Outro ponto. A cidade tem muita tradição em gastronomia como lazer. As pessoas saem de casa para buscar gastronomia. Então estamos levando os artistas para dentro da gastronomia. A gente vê que não é só uma dificuldade da nossa cidade. Está à frente de muitas, também atrás de muitas. É um quebra cabeças
GIRO MARÍLIA – Como a Tais se enquadra em todo esse trabalho?
TAÍS MONTEIRO – A Taís em si se sacrificou. Esse tempo todo tentou se entregar, porque eu tinha que assimilar muita coisa ao mesmo tempo. Agora eu estou buscando a Taís de novo. Fui buscar na academia, vendo mais meus amigos, minha família, indo comprar novas telas para pintar. Sabe o que eu quero? Costumo dizer que estou secretaria, mas nunca vou deixar de ser arista, de ser pessoa que quer bem do próximo, missionária de Jesus, esse é meu coração.
GIRO MARÍLIA – Você freqüenta a Igreja, como você enfrenta julgamento lá por sua atuação?
TAÍS MONTEIRO – Sim e sempre enfrentei. O julgamento existe e me dói porque tenho absoluta certeza que quem deve me julgar e só Deus. Quando me pego com sentimentos que sei que não são corretos eu imediatamente tiro isso de mim, não me cabe.
Quem me conhece sabe que sou assim, não vou deixar de ser, a não ser que Deus fale: ta demais. Mas tenho que ser eu, porque a hora em que eu não estiver aqui (na secretaria) é a Tais que permanece.
GIRO MARÍLIA – Como fica o aniversário da cidade sem Chitãozinho e Xororó?
TAÍS MONTEIRO – Temos uma programação que está sendo discutida, mas haverá eventos, apresentações de capoeira, aulas de coral, o desfile, a possibilidade de trazer a Orquestra de Tatuí, uma coisa calma, para aquecer a alma. A Cultura tem orçamento para realizar eventos e projetos de formação. O show poderia acontecer, tinha previsão de verba destinada para isso. Mas não é o momento. Por isso uma orquestra, mais calma, para não passar em branco. Vai ter esquadrilha da Fumaça, show de paraquedismo, E eu já estou habilitada para acompanhar um vôo. Tomara que não torcida para o avião cair (risos). Mas se cair tenho certeza que vou para o céu.