Banzo

Aprendi faz pouco tempo que Banzo, em dialeto vindo da África durante a escravidão, significa Saudade.

Saudade da terra natal, dos seus, do que se tinha, do que você era, dos amigos, amigas.

Nos quase cinco anos em que morei em Porto Velho/RO – em razão de concurso em Universidade Federal – senti a força do Banzo.

Ainda que viesse a cada dois ou três meses para cá, uma hora tinha que voltar. Tenho saudade de muitos amigos de lá, pessoas honestas, inteligentes, trabalhadoras e que cuidam de suas amizades.

Porém, sentir o Banzo é algo que não desejo a ninguém: na pior das hipóteses, pra um ou dois. A angústia já me atacava na vinda, na véspera da partida.

No Brasil todo, pode haver uma cidade melhor e mais bonita pra se viver, do que Marília. Deve haver. Mas, desconheço totalmente. E olhe que já andei bastante pelo país.

A foto é de amador (eu). Mas, é nítida a cidade que se desfralda atrativa, convidativa, charmosa, convidando a todos que adentrem em seus segredos.

Poucas apresentam seu povo, em suas casas, antes dos prédios e símbolos de riqueza.

Não quero outro lugar para viver. Não quero sentir o banzo nunca mais.

Na verdade, o Banzo sentido pelos negros trazidos ao Brasil era muito mais forte do que podemos imaginar.

Talvez – mas só talvez – lembrasse um pouco o que sentiram os exilados na ditadura militar: expatriados, arrancados de seu país.

Para muitos foi um auto-exílio: uma saída pela direita. Um exílio consentido, planejado, com toda segurança e conforto. Mais ou menos o que se passou com FHC e parte de sua trupe.

Como se dizia quando era criança, uma saída do leão da montanha.

Para muitos, não se saberá nunca quantos, a saída pela esquerda foi desastrosa. Muitos não retornaram, muitos morreram de desgosto.

Mesmo assim, só se parecem em sentimentos. Pois, o exilado tinha consciência, ao menos noção, dos porquês.

Com o negro escravizado, não. Simplesmente, um belo dia acordou com um monte de gente branca batendo nele, laçando, atirando. Acabou no fundo de um navio fétido, cheio de doenças e de ratos pestilentos. Talvez conhecesse algumas pessoas, mas a maior parte de sua família estava distribuída por vários cargueiros e navios negreiros.

Pois bem, Banzo é o que muita gente poderá sentir se o sabujo do fascismo continuar solto fustigando o Estado de Direito.

Nas passeatas desse ano – ao contrário de 2013/2014 –, os sabujos já têm as coleiras soltas e nos mordem com cartazes de “Viva a Ditadura!”.

Esses sabujos cometem crimes previstos na Constituição Federal. O que é fácil de saber, porque atentar contra a Democracia e o Estado de Direito ainda é crime no Brasil. Para instigar sua curiosidade, vou apenas dizer que se encontra em várias montantes e jusantes: preâmbulo, artigos 1º e 5º da CF.

O Poder Público já deveria ter agido contra. Em alguns casos, com base no crime de “organização criminosa”. Não o fez porque esse crime foi tipificado para combater a esquerda: movimentos sociais, Black Blocs.

Muitos fascistas que prometem voltar às ruas no dia 12 de abril sabem bem o que fazem; a imensa maioria segue a lógica bovina. Contudo, todos cometem o crime/pecado do desiderato: o mais grave vilipêndio da razão. Especialmente quando fornecem munição para o Golpe de Estado que já se avizinha (veja por você mesmo: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/coronel-da-pm-ameaca-dilma-estamos-prontos-para-a-luta-armada.html).

Se viermos, de fato, a comprovar o pensamento de Giambattista Vico (pensador italiano), de que “a rudeza nasce da ignorância” (em A Ciência Nova), então, os sabujos terão vencido.

Neste caso, o caminho traçado terá sido descrito por Albert Camus (um gênio francês que só enobreceu Balzac e Victor Hugo).


Os títulos dizem tudo, todavia, leia-se que: a Peste assola o Estrangeiro (nós), que acaba morto no Estado de Sítio.

Espero não escrever esse texto com o peso do pesar, de que um dia sentirei falta – Banzo – de Marília outra vez.