Meu avô era delegado e eu era o seu xodó. Andava para lá e para cá me carregando em seu Opala cor de mel, que eu achava o máximo do luxo. Apesar de todo o mimo, ele me tratava como uma miniadulta. “Mariana, o comunismos é utópico, mas o sol deve nascer para todos”, dizia, brizolista
Ironicamente, roubou uma célebre frase atribuída a Jânio — que nunca disse tal — e fez dela o seu bordão: “Fi-lo porque qui-lo. Lê-lo-á quem suportá-lo”. Utilizo até hoje.
Minha avó, sua esposa, era muito envolvida com a política de sua pequena cidade. Usava camiseta, subia no palanque, coordenava campanhas. Acima de tudo, ela acreditava que os candidatos que apoiava dariam o melhor de si para aquele lugar em que ela nasceu e morreu. E, na verdade, esse é o mínimo que podemos esperar de quem a gente escolhe para nos representar.
Meu pai e minha mãe eram vermelho PT. Lembro de quando eles me colocaram para fazer boca de urna para o Lula, em 1989. Na esquina de casa tinha um colégio eleitoral, e eu ficava no portão distribuindo panfletinhos. No fim do dia ganhei um pão com mortadela. Meus pais realmente acreditavam em uma reviravolta naqueles tempos sofridos de inflação.
Foi assim que cresci: meio esquerdista, politizada, participante e cheia de opinião. Sempre achei que é importante conhecer a política para saber lidar com a dinâmica da vida, e aos 17 anos sabia muito mais sobre diretrizes partidárias do que sobre grifes famosas — não foi por isso que decidi ser jornalista.
Mas foi por causa da minha profissão que já trabalhei para o PT e para o PSDB. Fui repórter de política por muito tempo, editei noticiário por outro longo tempo, vi brigas, vitórias, roubalheiras. O mais surpreendente é que em 13 anos conheci apenas dois políticos exemplares: Sérgio Souza (PT) e Elson Munaretto (PMDB).
Política é um talento para poucos, precisa mais que inteligência. Quase ninguém tem o timing da oratória. Quem tem, vira bonapartista e leva todas. Por sua vez, quem traz a ironia vira o herói dos debates, mas nunca é eleito por falta de compreensão.
Apesar do meu discurso neoliberal, nas últimas eleições minha vida virou de cabeça para baixo: eu queria Dilma, porque acho que os brasileiros não estão preparados para o Estado mínimo. Minha mãe se virou para o Aécio e me tocou de casa, a linha editorial do jornal em que trabalho ia contra minhas convicções, meus amigos começaram a se matar, assistir debate virou piada e a disputa virou Fla-Flu. Meu mundo desmoronou.
Dilma foi reeleita, respirei aliviada, e o posterior foi um soco no estômago e um sentimento de traição.
Tive uma crise depressiva, decidi que não queria mais hardnews, fiz as pazes com os amigos coxinhas e há três meses escrevo basicamente sobre comportamento: sexo e relacionamento. Mas tenho que admitir que política é muito mais excitante.