Educadores em greve

Tristemente as greves na educação tonaram-se rotineiras no Brasil. Um dos poucos temas consensuais em nosso País, hoje, talvez seja o da necessidade inescapável de educação de qualidade. Uma pergunta nunca é respondida: por que isso não acontece, apesar de incontáveis e distintas estratégias adotadas em sucessivos governos, em escala federal, estadual e municipal? O que impede a efetivação da educação de qualidade?

No âmbito governamental prevalecem retórica e práticas perversas. Ações de domesticação forçada, por reflexo condicionado, são impostas aos professores em escolas, universidades e redes oficiais de ensino. No estado de São Paulo, assiduidade, disciplina e submissão são gratificadas, como doces para crianças. A indiferença pela realidade na sala de aula reina no universo de gestores de educação. Na esfera privada a realidade é mais dura e crua: educação é mercadoria. As raras exceções apenas confirmam a regra.

 

A aula hoje é de cidadania

Educadores insatisfeitos, indóceis e rebeldes são acusados de fracasso profissional, despreparo intelectual, defasagem pedagógica, inadaptação ao “mundo em mudança”, indisposição e acomodação. Agressões e violência, física e simbólica, baixos salários, jornadas extenuantes, surgem como condenação, evidente e natural, pela incapacidade e a inépcia em empreender, inovar, competir, produzir, apostar, crer, individual e coletivamente.

Os educadores são confinados em pautas e agendas de reivindicações sindicais. Governantes e seus gestores de educação convertem greves, manifestações e lideranças em provas e estereótipos de indisciplina e de manipulação, destinados a ferir moral e mortamente a autoestima dos educadores e as suas expectativas, valores e visões de mundo. O inconformismo é tratado como vergonha e não como prática pedagógica e cidadã. A resposta está em cartazes nas manifestações dos educadores: “A aula hoje é de cidadania”.

É sintomático que a indissociabilidade entre educação e mudança social, reconhecida e evocada pelos mais diferentes segmentos sociais e ideológicos no Brasil, não seja regra observada e adotada pelos corações e mentes de governantes e gestores de educação. No cotidiano da vida educacional aquela associação é negada, boicotada, sabotada e inviabilizada sistematicamente. Baixos salários são apenas indicadores, fiáveis e cristalinos.

 

Não cola mais

O mandonismo dos governantes soube capturar as greves. Move-as como peças da engrenagem retórica e administrativa que tolhe a educação como “revolução dentro da ordem”, diria Florestan Fernandes. Toleradas, lideranças e a liberdade sindical não são contestadas. O seu alcance político, cultural e social, é esvaziado e recalibrado com ar de corporativo, inexpressivo, localizado, restrito, baderneiro, avesso ao diálogo, inaceitável…

        O sentido social das greves de educadores precisa ser reelaborado. Sindicatos e associações, educadores, estudantes, funcionários, pais e familiares de alunos devem unir-se no resgate da chama criadora da educação como propulsora da mudança social, da emancipação humana e da vida democrática. A verborragia cínica da educação como salvação de tudo e de todos, artifício sorrateiro da ação política que nega a qualidade na educação brasileira, não cola mais, não tem recuperação.