Somos seres individuais, cada um com a sua digital, sua personalidade, seu estilo, valores e convicções. Há quem divida também por sexo, cor, classe social, o que acho injusto, mas não é sobre isso que quero falar — ou é também, não sei bem definir. Mas prossigamos.

Apesar de nossa individualidade — muitas vezes desrespeitada —, assim como o mundo, somos constituídos de elementos que vão se recompondo conforme a matéria se divide. Precisamos de cálcio, fósforo, vitaminas, energia, água, oxigênio. Os elementos que nos compõe fazem parte de outras coisas antes de fazerem parte da gente e vão compor ainda outra quando nossa alma deixar o corpo (não que eu acredite em alma, mas esse foi só um exemplo). Sendo assim, por mais que sejamos formados de pequenas partículas, o nosso todo compõe um universo.

Sendo assim, o que nos faz acreditar que o mundo gira em torno do nosso umbigo? Obviamente eu queria que, sim, meus problemas fossem prioridades, que ninguém conseguisse me substituir no meu trabalho, que todos me olhassem quando eu precisasse de atenção.

Queria elogios, prêmios e glórias, que a minha rua recebesse asfalto novo, que as professoras dos meus filhos tivessem pós-graduação. Que o médico do postinho ficasse meia hora conversando comigo para descobrir o que eu tenho e que o exame fosse agendado imediatamente. Mas as coisas não acontecem bem assim, e não é pessoal.

Não é incomum ver pessoas com doenças graves se questionando: por que eu? Mas não é você, meu caro, são milhões. Nenhum privilégio e nenhuma desgraça dizem respeito a nós.

As redes sociais nos deram voz, e insistimos em fazer da nossa vida entretenimento alheio, como se nosso banho pudesse ser visto pelo mundo e, pior, como se ele interessasse ao mundo. Damos indiretas para pessoas que mal sabem que a gente existe, esperamos curtidas e comentários de gente que não conhecemos e esquecemos de dar bom dia para o nosso vizinho, de agradecer a nossa família. O individual virou tão absurdamente grande que as nossas comunidades são virtuais e só dizem respeito aos nossos interesses, mesmo que eles pareçam ser coletivos — como sustentabilidade e corrupção.

Mas ok para quem acha bom viver assim. O problema só se agravou porque nos alienamos nesse mundo e deixamos com que a realidade se tornasse o que é hoje: com os mais espertos e cheios de más intenções se deitando sobre a nossa ignorância de visão global e fazendo do que é concreto o que eles querem — e como isso dissesse respeito a você, individualmente, para que você se sinta único — enquanto discursamos teorias infundadas achando que somos espertos e que todos querem ouvir.