Uma carta aberta divulgada nesta segunda-feira aponta corte de leitos no Hospital São Francisco e atraso no pagamento de bolsas como novos problemas decorrentes do corte de 25% nos investimentos da saúde estadual no Complexo Famema. A carta é um convite para que a população participe do protesto de quarta-feira dia 29, quando estudantes vão paralisar atividades e fazer uma passeata até a prefeitura.
O texto é assinado por “estudantes da Famema” e produzido pelo comando do protesto, que segundo o Diretório Acadêmico reúne até 40 representantes dos dois cursos – medicina e enfermagem. Os alunos decidiram fazer toda a mobilização em nome do “comando” para evitar represálias individuais ou personalização dos protestos.
“A Famema passa por uma crise com um corte de 25% em seu orçamento. Os alunos escreveram um texto no qual expõem todos os problemas e suas consequências para os alunos, funcionários e usuários do SUS, de uma forma um pouco mais detalhada, com uma visão de quem realmente está dentro da crise e vive diariamente” diz apresentação da carta enviada ao Giro Marília.
Além de parar as faculdades, o protesto do dia 29 terá uma passeata que vai sair às 8h da Famema (rua Monte Carmelo, ao lado do HC) e seguir até a prefeitura.
Quando o protesto foi convocado, na semana passada, a assessoria de comunicação da Famema informou que desde o final do ano passado a Saúde Estadual cortou em 25% o volume de repasses e pagamentos por serviços do Complexo Famema. A medida já provocou perda de equipe de anestesiologia, pediatras e um déficit que neste mês chega a R$ 7 milhões.
O Giro encaminhou perguntas por email à Famema e tentou contato nesta segunda. Aguarda retorno poara divulgar a posição da Faculdade sobre a informação dos cortes e eventual reunião com os estudantes.
Veja a carta distribuída pelos estudantes:
“Crise na Famema
A Famema hoje vive um cenário de crise. Houve corte de 25% dos recursos passados à instituição que nunca teve um orçamento largo. O crônico subfinanciamento, agora agudizado pelo corte de verbas, tem impacto direto nos direitos trabalhistas de seus servidores, nas políticas de assistência estudantil e no acesso e qualidade da assistência à saúde da população de um milhão e duzentos mil habitantes, dos mais de 60 municípios que usam o Hospital das Clínicas da Famema como hospital terciário de referência.
A equipe de anestesiologia do HC, após meses sem receber pagamento, pediu demissão. E é provável que a moratória salarial se estenda a vários outros setores, ameaçando uma greve geral na instituição. No HC-III (Hospital São Francisco) 20 leitos cirúrgicos serão cortados.
Cirurgias são canceladas por falta de profissionais, insumos e leitos, sem previsão de reagendamento. Os pronto-socorros abarrotados de pacientes, com escassez de profissionais são cenários de tensão e desespero.
Para controlar a demanda, só atenderão pacientes referenciados e as emergências, aumentando as filas de atendimento nos PAs. Enquanto isso, é aprovada a autarquização dos hospitais do complexo Famema, que se por um lado, traz a promessa de um orçamento adequado ao custeio das atividades assistenciais da instituição, por outro anuncia o risco da terceirização da gestão e da abertura de porta dupla para o atendimento aos convênios privados, como dito pelo próprio deputado Camarinha na audiência de votação do projeto na assembleia legislativa.
Não há resposta imediata, nem solução a ser apresentada pela diretoria da Famema à crise. E a resposta em médio prazo, pode significar a privatização, que está longe de ser uma solução para o serviço público, mas um ataque aos direitos trabalhistas e ao acesso à assistência aos pacientes do SUS.
Na Faculdade, o cenário não se modifica e atinge a qualidade do ensino nos cursos de medicina e enfermagem. Os estágios realizados nos hospitais são prejudicados pela falta de pacientes nas enfermarias e de cirurgias.
As bolsas de auxílio estudantil oferecidas pela instituição aos estudantes financeiramente carentes estão atrasadas. Para eles, isso significa não ter como pagar aluguel e se manter na faculdade. O xerox da biblioteca está fechado por falta de toner, o que é um entrave muito grande para o acesso ao conteúdo dos já poucos livros da biblioteca da instituição.
Promessas feitas, como a abertura de concursos para mais professores e a construção de um Restaurante Universitário para uso da comunidade acadêmica não se concretizaram. Mas o aumento de 8 vagas no curso de medicina, previsto para o ano de 2016, usado como moeda de troca para ter mais investimentos na Faculdade se mantém nos planos, a despeito dos cortes.
Tal quadro é um reflexo da intensificação da crise econômica no país e das políticas antipopulares de austeridade utilizadas para combatê-la, sempre em benefício da classe dominante.
No ano de 2015, o Ministério da Fazenda começou com meta de poupar R$ 66,3 bilhões para o abatimento da dívida pública, significando um corte de mais de R$ 7 bilhões de reais no orçamento da educação. Na esfera estadual, em São Paulo, o corte foi de R$ 2 bilhões na folha de pagamento de funcionários comissionados. Contudo o governador Geraldo Alckimin prometeu que os setores da saúde, da educação e da segurança não seriam afetados.
O que para a nossa realidade presente significou apenas um discurso demagógico. Até quando estudantes, trabalhadores e população usuária do SUS pagarão pelo desmonte que o Estado tem promovido nas instituições públicas?
A comunidade Famema e de Marília precisam responder aos ataques promovidos contra seus direitos e exigir dos seus supostos representantes na direção e no estado que o preço da crise não seja pago por nós. É hora de fortalecermos uma alternativa popular para os trabalhadores e para a juventude frente a este cenário de recessão.
Convidamos a toda a comunidade famemense e população de Marília e região a se juntar a nós nessa luta! Venha participar do Dia de Mobilizações pela Saúde e Educação em Marília dia 29 de abril, as 8h em frente à Unidade de Educação da FAMEMA, de onde partiremos em direção a Prefeitura Municipal!”