O vampiro de Curitiba
Na última semana de abril os tempos da ditadura militar tornaram-se realidade no Paraná. Em menos de 24 horas a atitude, a postura e as declarações do governador do Paraná, Beto Richa, sepultaram ilusões que os generais venderam durante 21 anos. O governador do Paraná é um tecnocrata da geração pós-Constituição de 1988. Herdou do pai mais do que o sobrenome, também a ambição política, mas não a sensibilidade social e a disposição para a vida democrática. Em 2014, querendo ser um Aécio do Sul, Beto Richa jurou austeridade fiscal e autoproclamou-se gestor eficiente. Tal como o ex-governador de Minas Gerais, o atual governador do Paraná tentou ludibriar os eleitores de seu estado. Os eleitores de Minas Gerais não se deixaram enganar. Os eleitores do Paraná, seduzidos, caíram no canto de sereia de um governador arrogante que acredita ser rei. Em editorial o jornal Folha de S. Paulo classificou a gestão Richa como um “descalabro financeiro”. O déficit do Paraná é o segundo entre os estados brasileiros: 4,6 bilhões de reais!
Deitado em sangue esplêndido
A crise financeira do governo paranaense era conhecida antes das eleições. Em 2012 os gastos públicos superaram a arrecadação no estado. Em 2014, repetiu-se o fato. Um e outro ano tiveram em comum a realização de eleições, municipais e, depois, estaduais e nacionais. As contas não mais fecharam desde então. A esperteza foi mais rápida do que a ética e a sabedoria no governo Richa. A mudança na Previdência dos servidores estaduais, proposta e aprovada mano militari pelo governador, visam o saldo positivo que a racionalidade administrativa logrou edificar para assegurar a dignidade na aposentadoria dos trabalhadores do serviço público do Paraná. A lei aprovada na semana que passou e que ficará inscrita na história da violência do Estado contra a sociedade no Brasil, permitirá ao governador Richa saldar as dívidas contraídas e multiplicadas em seu governo. Ciente da insatisfação social embutida na proposta, a polícia militar foi convocada para proteger o prédio público e a vitória em plenário da Assembleia Legislativa. Em nome desta “proteção” é que foi determinado o isolamento deste edifício. O que se seguiu foi uma “batalha campal”, na palavra do deputado estadual líder do governo, e não “reação natural de proteção”, na imaginação do senhor governador.
Estaca no coração da cidadania
Os acontecimentos de 29 de abril, em Curitiba, foram classificados pelo Ministério Público como “tragédia”. Os servidores estaduais do Paraná estão em greve, tentando preservar direitos adquiridos no passado e assegurar sua efetivação no presente e no futuro. A resposta do governo estadual foi repressão e violência nas ruas, incompetência e cinismo nas declarações públicas das autoridades e de seus aliados. No melhor estilo ditatorial, senhorial e escravista, Beto Richa evocou a manutenção da ordem e a necessidade do controle, defendeu e justificou a punição exemplar daqueles que ousam contestar a prepotência e a truculência cometidas na capital do Paraná. Para aqueles não há democracia, direitos e cidadania? Não valem os preceitos e os direitos constitucionais? Beto Richa, talvez, quite os débitos financeiros do governo do Paraná. Para tanto pagou adiantado os altos tributos devidos à tradição de mandonismo e da cidadania como privilégio das elites econômicas e sociais no Brasil. Agrediu servidores, professores e crianças da creche vizinha da Assembleia Legislativa. Exibiu aos pais e filhos de todos os brasileiros a sua enorme falta de educação política.