Marília

Protesto abraça HC e cobra fim dos cortes em repasses

Manifestantes “abraçam” hospital em protesto contra crise – Rogério Martinez/Giro Marília
Manifestantes “abraçam” hospital em protesto contra crise – Rogério Martinez/Giro Marília

“Governador, cadê você? Não deixe o HC Morrer”. Com palavras de ordem assim, funcionários do Complexo HC-Famema fizeram na manhã desta sexta-feira um abraço simbólico ao prédio do Hospital das Clínicas em protesto contra o corte de repasses e a crise financeira do HC, que causa diferentes prejuízos aos serviços e ao atendimento.

O objetivo é sensibilizar lideranças políticas e a comunidade em geral para defender mais investimentos no hospital. O HC perdeu profissionais, perdeu serviços terceirizados e segundo o protesto de hoje não tem medicamentos básicos – como paracetamol – nem coberturas suficientes.

Convocado pelas chefias de setores, o protesto evitou ataques à diretoria ou críticas diretas ao governador Geraldo Alckmin ou qualquer outro político. Contou até com faixas de deputados amarradas nas grades do hospital. O vereador Marcos Rezende (PSD), representante do deputado federal Walter Ihoshi, acompanhou a manifestação, carregou cartazes e cantou com os manifestantes.

O complexo perdeu desde o final do ano passado 25% de todos os repasses estaduais mensais, o que provoca um rombo superior a R$ 8 milhões e já causou perda de serviços em anestesiologia, pediatria e radioterapia, além de cortes de atividades acadêmicas e atraso de pagamentos diversos.

Perto de 150 funcionários de diferentes setores participaram da ação. De mãos dadas eles deram uma volta em torno do prédio e depois, em frente à portaria, cantaram o hino nacional e gritaram palavras de ordem e uniram os cartazes.

“O abraço surgiu porque o dr Michelone (Paulo Michelone, diretor do HC) para passar a posição do hospital. Faltam diversos repasses e com esse atraso falta muita coisa. Estamos com aluguel atrasados, contratos médicos atrasados, vários até pararam. Ele disse: já esgotei todas as minhas possibilidades. Eu falei, a gente poderia fazer um manifesto para chamar a atenção”, disse Walkíria Montovanelli, chefe do setor de Finanças.

Deixou a reunião e os servidores, em reunião de chefia com pouco mais de 50 coordenadores de setores. Segundo Walkíria, a crise chegou dentro do hospital. “Falta medicamento, falta gaze, seringa, saco de lixo. Produto que de uma forma ou de outra acaba atingindo o paciente. A gente não tem à disposição todos os antibióiticos que as vezes precisa. A gente tem que trabalhar com o que tem na não. Rrecursos até de troca, emprestar, até com vergonha de fazer isso. A gente não tem poder político? Vamos manifestar e alguém vai ver isso”, destacou.

A médica Maria Cecília Cordeiro Dellatorre entrou na Famema como estudante em 1970, vinda de Lins. Estudou, está formada há 40 anos, e desde 1989 é docente na instituição. Já foi diretora administrativa e ocupou diferentes funções. Viveu diferentes fases e esteve hoje no protesto.

DOENTE CRÔNICO

“A Famema é um doente crônico. Ela tem momentos pequenos de melhora. Mas na maior parte do tempo ela precisa sair correndo para pronto-socorro e muitas vezes vai parar na UTI”, disse a média. Segundo ela, falta estrutura.

María Cecília lembrou que a faculdade tornou-se um instituto estadual há 20 anos. Neste período não houve nenhum concurso, não há um servidor estadual na instituição. A médica avalia que o processo para transformar o HC em uma autarquia estadual pode caminhar para isso.

“Eu não estou brigando contra ninguém. Estou  brigando a favor dos pacientes, de uma assistência com dignidade, de um ensino com dignidade. O que vamos estar ensinando para nossos alunos se eles estão atendendo pacientes em condições tão indignas? Isso não é ensinar.”

A médica afirmou ainda que se existem erros a Saúde pode fazer como atuou com a Santa Casa de Marília: faça uma auditoria mas venha até Marília, faça aqui o levantamento. “Não pode é deixar uma população desassistida. É um direito a saúde. Minha luta é por aí, pela garantia desse direito. Eu briguei para existir o SUS, participei de muita briga pelo direto da população e agora ele está sendo negado. Não pode é o paciente ser mandado embora sem assistência, encontrar porta fechada.”