Marília tem história

A contribuição e a relevância social da universidade pública no Brasil vão tomando contornos nítidos com o passar do tempo. O conhecimento, a formação de profissionais e a atuação cultural da universidade junto à sociedade tornam-se concretos, visíveis e presentes no médio e no longo prazo. É o que nos faz concluir a leitura da pesquisa do professor Áureo Busetto sobre a estrutura partidária em Marília, na segunda metade do século passado. Trata-se da dissertação de Mestrado em História, por ele apresentada, no campus de Assis da Universidade Estadual Paulista, em 1991. Economia e política local são esmiuçadas com talento e precisão, reconstituindo e dando sentido a uma trajetória social singular na ocupação do oeste paulista ao longo do século XX. Tristemente, centralização, manipulação e exclusão social na política são traços antigos em Marília.

 

Desde logo, capital regional

O perfil do município de Marília já estava estruturado na década de 1940. Seria uma capital regional polarizando o espaço das linhas férreas da Alta Paulista e de seu prolongamento para oeste, em direção ao rio Paraná, da Sorocabana, ao sul, e da ferrovia da Noroeste, ao norte. A diversidade da produção agrícola e as grandes safras de café, algodão e de amendoim apoiavam-se em núcleo urbano comercial, industrial e bancário, malha viária em expansão e grande dinamismo social e político. Em fins da década de 1960 a concentração urbana foi acelerada e a economia tornou-se mais sólida nos setores secundário e terciário. Em compasso de espera este perfil de capital regional reproduziu seus passos na história, contraindo incessantemente a sua economia agrária.

 

História e cidadania

O fortalecimento municipal não impediu que a emergência da política de massa e a organização partidária fossem capturadas nas malhas do clientelismo e do populismo, confinando aos períodos eleitorais a participação popular na vida local. Cidadania e políticas públicas seguem reféns de interesses particularistas e exclusivistas. Hoje, após quase um quarto de século, encontramos no texto de Áureo Busetto uma porta de entrada para pensar a realidade municipal de Marília. A pesquisa rigorosa e abrangente, os dados compilados e organizados de forma sistemática, a interpretação serena e pertinente, completam-se com a escrita leve, direta e aprazível. Não caberia agora ampliar o acesso ao maior número possível de leitores?