Ator Al Pacino (centro) como Michael Corleone em Poderoso Chefão – reprodução
Ator Al Pacino (centro) como Michael Corleone em Poderoso Chefão – reprodução

O que é o poder?

Essa é uma das perguntas que mais se houve e que menos tem respostas que satisfaçam a necessidade do conhecimento humano.

Muitos dirão que poder é a capacidade de dar ou de tirar a vida de alguém, de domar ou libertar: “poder é o que tem o senhor sobre o servo”.

Outros pensam que o poder (assim como a Filosofia) só pode ser para o bem: “O Poder Público é para todos, é o poder central da República”.

No meio termo – assim como entre o céu e a Terra – há um caminhão de possibilidades. Há quem defenda que o poder é uma possibilidade, uma espécie de potência (latência), que só age quando acionado e porque não restaria outro recurso. Mas, diferentemente disso, também se acredita que poder é demonstração de força, virilidade, capacidade de intimidação ou subjugação.

Ora se acentuam as capacidades institucionais (“o poder de Roma!”), ora as habilidades individuais (“o homem mais rico do mundo”); mais ou menos como uma comparação entre o príncipe e o Estado. Ainda se associam Estado e Príncipe, tanto os antigos príncipes quanto os Estados modernos. O Estado seria o Príncipe Moderno.

E por aí vai. Porém, há uma ilustração da Máfia italiana que talvez seja a melhor definição de poder.

Imagine-se na entrada de um vilarejo tranqüilo, simples e de poucos movimentos no interior da Sicília. Veja um velhinho sentado numa cadeira de vime. Paciente, olha para o vazio. Tem o olhar perdido nas lembranças ou nos projetos de futuro. Ao seu redor não tem ninguém. Mas, mesmo só, não há desconfiança, sentimento de abandono ou desilusão (ao menos não por isso).

Agora, pense que você entra nessa cidade não maior do que uma aldeia, olha aquele velhinho, olha ao redor de tudo e não vê nada. Poderia sentir pena dele: “que coitado, um infeliz”. Talvez até imagine que está abandonado para morrer solitário.

O que não supõe, nem imaginaria, a não ser em filmes antigos, é que este velhinho é o capo, o chefe da máfia local. O que nem sonha é que, muito antes de entrar na aldeia, já era monitorado por olhos atentos e fixos.

São olhos agudos à procura de armas, como o olhar da águia sobre a presa.

E, dentro da aldeia, não teria como supor que outros vinte olhos estão debruçados sobre você, que dez pessoas de extrema confiança (e ótimos na mira) já escanearam seu corpo à procura de sinais de hostilidade.

Quem vive da violência é capaz de reconhecer outro que seja do mesmo valor.

Isto é poder.

O velhinho tem todos na mão. É o padrinho e dono e senhor de suas almas. E todos lhe devotam a vida como o filho mais apaixonado faria ao pai. Ou seja, o poder do velhinho não está nas armas ou no dinheiro que deposita na capital ou em contas secretas. Talvez nem ele saiba o quanto tem de dinheiro. Mas, sabe perfeitamente o quanto tem de poder.

O poder do velhinho não é econômico, nem se baseia em ameaças de morte. Seu poder germina do reconhecimento que todos na aldeia lhe depositam. E depositam muito mais do que nos contariam as famosas “taxas de proteção”.

Não há poder maior do que o reconhecimento. Literalmente, faz mover montanhas e garante vida e morte.

Resumindo: Poder é Legitimidade.

De acordo com a legitimidade, aquele velhinho tem muito mais poder do que o Estado brasileiro (ou italiano).