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Herdeiros de frei torturado na ditadura receberão pensão

Herdeiros de frei torturado na ditadura receberão pensão

Os herdeiros de frei Tito de Alencar, que morreu na França depois de ser torturado e exiliado durante o período da ditadura militar, terão direito à pensão especial vitalícia. É o que define lei sancionada pela presidenta Dilma Rousseff e publicada no Diário Oficial da União de sexta-feira (17). Os herdeiros vão receber R$ 500 por mês, que podem ser divididos em partes iguais. 

Embora reconheça e agradeça a intenção do governo federal de conceder a pensão vitalícia, a irmã de frei Tito, Nildes Alencar, afirma que a atitude não é o bastante para resgatar a luta do frade. “Dinheiro algum indeniza o que aconteceu com meu irmão. A gente faz uma reflexão sobre como ele poderia contribuir para melhorar o processo democrático no país. 

Nildes informa que a família ainda não foi informada oficialmente da concessão da pensão. A intenção é aplicar o valor nas atividades do Instituto Frei Tito de Alencar, que incentiva ações de valorização da memória e da luta do frade.

Para o conselheiro da Comissão Nacional de Anistia do Ministério da Justiça Mário Albuquerque, a concessão da pensão vitalícia aos herdeiros de frei Tito significa muito pouco comparado ao que aconteceu ao frade durante a ditadura. “O que se espera do Estado brasileiro não é essa parte pecuniária, mas sim a apuração dos fatos que levaram frei Tito a esse paroxismo de tirar a própria vida. Sinceramente, vejo esse gesto com muita tristeza.”

Nascido em Fortaleza, Tito de Alencar Lima era frade dominicano e estudante de filosofia na Universidade de São Paulo. Envolvido com suporte para organização de um congresso da UNE de forma clandestina em Ibiúna (SP), o frade acabaria preso durante investigação de apoio de freis dominicanos a organizações de enfrentamento da ditadura, como a ALN (Aliança Libertadora Nacional) e seu principal líder, o ex-deputado Carlos Marighella. 

Preso, Tito foi brutalmente torturado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Uma carta em que conta a história da tortura, além de um exame realizado por médicos detidos por motivos políticos, correram o mundo e tornbaram-se importante documento para denunciar o sistema de torturas e prisões abusivas no país durante a ditadura. 

Em 1970, Tito foi libertado com grupo de prisioneiros políticos trocado pelo embaixador suíço Giovani Enrico Bücker, sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária. No ano seguinte, passou a morar na França, mas como reflexo das torturas e do exílio, passou a sofrer traumas piscológicos graves que culminaram com seu suicídio o em 1974. 

Após a abertura política, em 1983, os restos mortais de frei Tito foram trazidos para o Brasil e estão sepultados em Fortaleza. A história do frei Tito está contado no livro Batismo de Sangue, do escritor e frade Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei beto, que acabou transformado em um filme com o mesmo nome.