Nacional

BAURU - Alvo de racistas, professor elogia debates mas quer punições: "é crime"

juarez Xavier, professor da Unesp, durante entrevista em sua sala em Bauru
juarez Xavier, professor da Unesp, durante entrevista em sua sala em Bauru

Uma série de ataques racistas contra mulheres negras e contra um professor doutor da Unesp de Bauru vai render um processo de apuração, muitas ações de debate e ações contra ignorância e tolerância. O professor Juarez de Paula Xavier, no centro deste processo, elogia a situação como avanço, mas com uma ressalva: o que fizeram é um crime que deve ser punido.

Juarez Xavier é coordenador de um Núcleo de Pesquisas do movimento negro na instituição, além de professor na Faculdade de comunicação. Foi vítima de ofensas por pichações em banheiros com frases como “Unesp cheia de macacos fedidos”, “Negras fedem” e “Juarez macaco”.

Em entrevista ao Giro Marília, Juarez disse que a reação acadêmica foi positiva e agora é um momento adequado para se fomentar o “debate do contraditório” e criar esses espaços de discussão. Admite até conversar com os racistas envolvidos, caso sejam indicados, sem abrir mão das medidas legais.

“Se houver interesse, a porta para o diálogo está aberta. Mas eles têm que entender que o racismo é crime, isso não depende da vontade subjetiva deles”, termina.

Militante do movimento negro, Juarez nunca havia recebido uma ofensa racista aberta e direta como agora em sua vida acadêmica, mas lembra que pequenos comportamentos, gestos e ações racistas acontecem cotidianamente. A exposição do caso das pichações, de acordo com ele, ajuda a criar conscientização.

Além de Juarez, a divulgação dos ataques, da história pessoal do professor e de suas manifestações revelou outra personagem marcante no caso: Bolaji, 16, anos, filha de Juarez, que reconfortou o pai.

“Foi uma postura muito alentadora, me orgulhei da maturidade dela. Ela teve uma preparação que eu e a mãe dela não tivemos, foi preparada para lidar com a situação”, diz Juarez.

O professor afirmou ainda o que considera orientações que pais negros devam dar a seus filhos, como forma de preparar as crianças para um mundo racista, para ensiná-los a ter consciência e a lutarem contra o racismo. Dá três conselhos:

“Primeiro, racismo é crime. Então tem que denunciar; é importante que os pais eduquem os filhos para a diversidade e para lutar contra a ignorância, trabalhar a cognição”.