Marília

A maternidade como valor social

A maternidade como valor social

Deixando o romantismo de lado e derivando a questão para a nossa realidade, ser mãe é um custo que deve ser partilhado entre toda a sociedade: governo, patrões, pais, família, entidades. A maternidade não é um mal, não é um castigo e também não deve ser “padecer no paraíso”. Ser mãe é uma condição biológica feminina que deve receber todos os cuidados, incentivos e proteção. Cientificamente falando, as mulheres geram filhos para perpetuação da espécie. São elas as únicas responsáveis por essa tarefa no planeta, mas toda sociedade se beneficia desse trabalho realizado exclusivamente pelo gênero feminino.

Entretanto, ao invés de ser motivo para a comemoração, em muitas situações observamos o contrário. Segundo a OMS – organização Mundial de Saúde, a cada minuto, uma mulher morre por causa de sua gravidez em alguma parte do mundo, o que significa mais de 10 milhões de vidas perdidas numa geração. Segundo um relatório divulgado em Genebra, “99% dessas mulheres são de países pobres e em desenvolvimento. As principais causas da morte de mulheres que dão à luz são as hemorragias, as infecções, os abortos feitos em más condições (68 mil por ano), a hipertensão e a obstrução do trabalho de parto.

Além disso, a pobreza, as guerras, a tensão e as catástrofes naturais também são fatores determinantes das doenças e mortes, razão pela qual a comunidade internacional deveria se mobilizar muito mais para proteger as mães, as meninas e as crianças.

Os riscos de morte derivada da maternidade são maiores nas famílias pobres, carentes de acesso a serviços adequados de saúde. Daí o fato de haver um claro paralelismo entre o aumento de mortes durante a maternidade e os crescentes níveis de pobreza no mundo”, segundo explicou o consultor do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentou um estudo sobre a relação entre a mortalidade materna e o trabalho. “A pobreza obriga muitas mulheres dos países pobres a reintegrarem-se ao trabalho imediatamente após o parto, o que implica um enorme risco para a saúde delas e do recémnascido”, disse Naomi Cassiser, autora do relatório “Maternidade Protegida e o Mundo do Trabalho”. 

A boa notícia é que a taxa de mortalidade das mães e das gestantes pode ser consideravelmente reduzida através do processo de modernização, da educação e do avanço da inclusão social, porque o início da maternidade tende a ser postergado quando as adolescentes têm a oportunidade de permanecer na escola e podem contar com boas ofertas de emprego, após terminar os cursos oferecidos pelo sistema educacional. Vale dizer que a conquista da autonomia social e profissional é fundamental para que a decisão de casar e ou ter filhos seja feita de maneira livre e consciente.

A Fundação de População das Nações Unidas revela que se as adolescentes brasileiras adiassem a gravidez para depois dos 20 anos, a produtividade do país poderia aumentar em US$ 3,5 bilhões (algo em torno de R$ 8 bilhões). Os custos da maternidade precoce não são apenas macroeconômicos, pois muitos sonhos e perspectivas individuais são postergados ou definitivamente interrompidos. A maior parte das gravidezes precoces ocorrem entre populações vulneráveis e muitas são fruto da violência sexual ou da exclusão social uma vez que parte das jovens mães brasileiras sofreu algum tipo de abuso.

O fato é que a gravidez não desejada é uma realidade no Brasil e no mundo. Isto reflete a falta de direitos efetivos por parte das meninas e adolescentes e o não cumprimento da meta 5b dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) que trata da necessidade de universalização dos serviços de saúde sexual e reprodutiva. Mudar esta situação é uma tarefa urgente e uma obrigação de todos nós.

Devemos cobrar das nações o investimento em políticas públicas, programas e ações que promovam os direitos, a autonomia e o empoderamento de adolescentes e jovens, em especial meninas, em relação ao exercício de sua sexualidade e de sua vida reprodutiva, para que possam tomar decisões voluntárias, sem coerção e sem discriminação, garantindo informações corretas, acesso à educação integral em sexualidade e insumos de saúde sexual e reprodutiva, tais como; preservativos e contraceptivos, para que gravidezes não planejadas sejam evitadas. Punir a garota pela gravidez precoce ou a mulher por uma gravidez indesejada é desprezar por completo a realidade dos países pobres e dos países em desenvolvimento.

Adriana Tognoli é Coordenadora da Comissão de Saúde Materno Infantil do Rotary Club de Marília Coroados, Advogada, Pedagoga e Empresária.
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