A ideia de políticos profissionais é terrível, pois encobre noções elementares – a essa altura desviadas e desvirtuadas –, como é a ideia basilar do Político. O homem é um animal político – zoonpolitikón ­– não apenas porque Aristóteles assim afirmou. O homem tem em sua natureza a política porque é com ela que se constroem sociabilidades e sociedades.

Para o grego clássico, no entanto, político era quem vivia na Polis, na cidade, no Estado; só esse tinha vida social. Quem não vivia na polis não é ser social de verdade, e sim bárbaro. Assim, tomando-se a categoria do Político para dizer que o homem, homo sapiens é político por natureza sempre será uma afirmação controversa.

Por outro lado, aprendemos que o homem é político para se tornar sociável ou é na ação política que a sociabilidade pode florescer, constituindo os grupos humanos em interface política e social. A própria ideia de se construir uma sociedade é um projeto político, pois assim as formas de poder serão estabelecidas, o que pode e o que não vale, a noção de certo e errado.

Pois bem, na sociedade capitalista moderna, sob o comando da democracia parlamentar (uma escolha política obedecendo a fins econômicos), e mais precisamente sob a forma da Federação, temos o Poder Político dividido em três esferas: municipal, estadual e Federal. No município, o poder político institucional é centralizado e compartilhado entre o prefeito e os vereadores.

Contudo, é preciso salientar que as instituições executivalegislativa não são a única forma de política e de poder verificados na Polis moderna. A política (quando existe) não se concentra em determinada região, instituição ou grupo de poder, mas se espalha por toda a vida social e de formas distintas.

No caso concreto, quando se propõe o rebaixamento de salários dos vereadores, a iniciativa deverá afetar a vida civil e pública de todos os cidadãos. À primeira vista, num país cheio de pobreza como é o Brasil, parece uma saída auspiciosa que guardaria dinheiro público para outras tarefas.

O problema é que, com salários muito baixos ou sem remuneração nenhuma – como já tivemos também – a política municipal instituirá uma cláusula de barreira exatamente contra os trabalhadores e os mais pobres. Quando a política é feita exclusivamente por ricos e para os ricos, falar em salário zero não afeta em nada. Até mesmo porque o dinheiro para as futuras campanhas não vem dessa remuneração direta e sim de financiamentos nem sempre confessáveis.

Mas, quando se pensa num mínimo de democracia, de inclusão e de participação popular nas hostes do poder, aí a problemática é outra. Nem é o caso de se discutir se os trabalhadores-vereadores teriam nos rendimentos públicos um verdadeiro salário, uma vez que isto reforçaria a hipótese de se tornarem também profissionais da política.

O fato mais grave é que, ao defender pautas populares – muitas vezes indo contra os interesses de seus patrões ou da classe a que estão vinculados – ao saírem do cargo público, igualmente, não teriam mais trabalho na iniciativa privada. Simplesmente porque, se fossem efetivamente ativos e não cooptados, teriam ferido interesses econômicos ou pessoais dos seus prepostos ou empregadores.

Ou seja, o que parece uma medida corretiva para a República pode ser unicamente de interesse de grupos políticos e econômicos, e já hegemonizados no manuseio da coisa pública. Uma medida em que os salários são rebaixados drasticamente, além de ser populista (visto que o desvio do erário não ocorre na folha de ponto), é anti-popular e fere de morte a mesma democracia representativa que jurou defender. Em política, não há espaço para ingênuos, mal-informados e muito menos aventureiros.