Marília

Reeducação domiciliar em pleno século XXI

Eis um assunto que em reuniões ou simples conversas com mulheres casadas ou não sempre está em pauta: porque raios os homens não contribuem para as tarefas domiciliares?

Esse assunto está por trás de uma história dominantemente patriarcal, onde os homens são os que governam, são os chefes de casa. E a mulher fica submissa a esse contexto social é a que serve esses homens. E esse problema começa na infância onde o papel é da mãe de servir (falamos do homem em sua fase dos 6 aos 18 anos) e depois, em sua vida adulta, a da esposa.

É uma cultura tão forte, que ao relatar isso a um parceiro gera vários conflitos, onde o principal argumento deles é que isso é natural, é normal. Mas não é. Isso é mais um erro social que atravessa os anos sem solução. Mas com as revoluções feministas na década de 40, muitos questionamentos sobre a posição da mulher na sociedade foram levantados, e daí por diante a mulher foi se conscientizando e conquistando seu espaço no mercado de trabalho, na política, nas artes, enfim, a mulher se libertou das amarras, porém, uma coisa não mudou, ela continuou sendo a principal responsável pelos afazeres do lar e do cuidado integral dos filhos.

Atualmente escuto vários relatos sobre esse tema, e já ouvi casos de mulheres que se separaram por esse motivo: por não suportarem a carga excessiva de trabalho: fora de casa e dentro de casa. E isso não é um exagero porque a maioria dos homens carrega em si uma característica muito peculiar, são bagunceiros, desleixados e até um pouco desligados, mas isso se dá ao fato deles nunca serem cobrados quando a organização. Diferentemente da mulher que desde bem novinha tem que conciliar os estudos com os afazeres de casa.

E olha só como esse problema se agrava: você mulher trabalha 8 horas por dia em uma empresa. Após o termino de seu expediente você chega em casa e tem que se dedicar sozinha em lavar a roupa, passar a roupa, preparar a janta, lavar a louça, arrumar a sala, lavar o banheiro. E é lógico que não fazemos isso tudo em um dia só. Mas 50% sim. Todos os dias tem que ter uma arrumação. Mas o que quero atentar aqui é, que se você mora sozinha, você se vira com os afazeres, caso você more em dois, a tarefa é divida em dois, mas se for a três é daí por diante.

Você acha que esses relatos são exagerados? Pois bem. Uma pesquisa realizada em 2012 pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o tempo que a mulher se dedica ao lar e ao trabalho é de 22 horas por semana, enquanto homens se dedicam 17,5 horas. E se ela tiver filhos esse tempo aumenta em até 8 horas e o que me assustou é que as horas masculinas diminuem, pasme! Veja a tabela abaixo:


Fonte: PNAD/ IBGE. Elaboração: IPEA

“Parte destes estudos trabalha a ideia de um tradicionalismo de gênero, mostrando como mulheres e homens com atitudes tradicionais dividem menos o trabalho doméstico não remunerado e como homens e mulheres com atitudes menos tradicionais dividem mais. Os “papéis” de esposa e mãe despertam grandes expectativas sociais – sobre homens e mulheres – a respeito de quem deve ser responsável pelos trabalhos domésticos” (IPEA, 2012). E isso normalmente recai sobre a mulher devido ao histórico social.

E o processo de mudança dessa realidade é complicado, pois como vamos ensinar homens que cresceram com a ideia que mulher que faz tudo, e ele é que pode se dedicar mais ao estudo, ao trabalho e ao lazer? Como eles vão deixar de lado os privilégios que foram perpetuados por séculos e séculos? Este é um trabalho árduo que consiste em uma reeducação, onde as mulheres vão pontuar os erros e explica-los que todos tem o dever de contribuir para a limpeza/organização do lar, pois assim os conflitos entre casais serão bem menores.

Acredito que esse seja um ponto crucial nas relações mulher e homem. A mulher vive estressada com a sobrecarga, e o homem não consegue compreender a raiz desse problema. Um exemplo clássico desse caos são as desculpas para não sair, para não ter relações sexuais; a mulher perde toda sua energia, vitalidade e gosto para fazer outras coisas, enquanto que o homem possui todo seu gás para realizar outras tarefas.

Uma dica é que o dialogo reine e que todas as partes estejam satisfeitas com suas atividades diárias dentro de casa e ainda poderem desfrutar de seu tempo livre.

Aos homens: se preocupem menos em encontrar sua “Amélia”, pois não existe um tipo ideal de mulher, todos os tipos são ideais. Procurem ser mais cuidadosos e compreensivos com a questão da mulher na sociedade, hoje tão emancipada se deparando com problemas primitivos.

“Para que haja avanços na redução da desigualdade, é preciso a implementação de políticas de fato voltadas para a autonomia das mulheres e para o incentivo à participação masculina no trabalho doméstico. Essas políticas devem envolver as empresas e as famílias, além dos serviços públicos. […] Trata-se, portanto, de mudanças de paradigmas, para que as famílias deixem de ser vistas, por um lado, somente como unidades de consumo, mas também como locus de produção de serviços essenciais para a reprodução da sociedade e, por outro, que a distribuição dos diferentes tipos de trabalho entre os membros da família deixe de ser vista como um mero arranjo privado, fruto de negociações entre iguais. A desigualdade de gênero existente no interior das famílias determina processos sociais e econômicos que reproduzem uma desigualdade estruturante em nossa sociedade, subjugando um grupo de pessoas em relação a outro e limitando suas possibilidades de exercício pleno e efetivo da cidadania.” (IPEA,2012).

Veja AQUI a íntegra do estudo do Ipea citado no artigo. Para cutir a página Negras Ginga no Facebook clique AQUI.