A reforma ministerial repassando grandes nacos de poder ao PMDB não afasta a possibilidade do cesarismo – ocupação integral do poder por meio de golpe constitucional. Ainda há oito processos de impeachment na Câmara dos Deputados que esperam por avaliação.

O pós-impeachment, por sua vez, não é um tiro no escuro. O jogo do cesarismo é de roleta russa. Mas, o tiro pela culatra, na má sorte dos perdedores, será um tiro no pé da população mais pobre – como sempre.

Se estivesse no Brasil, o general romano Caio Júlio César falaria com grandiloqüência no tribunal do golpe legalizado e flertaria com o poder de exceção. Diria sem medo que a sorte está lançada, reafirmando o famoso “vi, vim, venci” – e que agora seria do próprio PMDB.

A grande diferença entre a Roma antiga e o Brasil atual é que não há bárbaros para derrotar, pois a referida barbárie está dentro e fora do poder. É um achaque como vimos poucas vezes na história política, com golpes baixos e contra-golpes – e de todos os lados. Não há mais amigo-inimigo. Todos são delatores/detratores em potencial.

Em todo caso, sob a ênfase do realismo político, a Realpolitik – toda política converge ao poder – ensina que o período pós-impeachment que se fomenta será de muita má sorte para os pobres de toda sorte.

A base aliada da situação, com o golpe, não tardará a ser base desalinhada de oposição. No “novo” governo, os partidos de sustentação política atual farão o que melhor sabem fazer: achacar o poder estabelecido. Mais crise.

Neste aspecto, ganhará relevo a Bancada fascista intitulada BBB (Boi, Bala, Bíblia). Os bancos que, com a situação, tiveram outros 40% de lucro em 2014, em 2015/6 continuarão fazendo o que fazem. O sistema financeiro não forma um grupo de pressão, pois é e será o próprio poder. Mais crise.

As políticas econômicas não serão diferentes, pois as atuais vêm do manual da oposição. Os impostos não vão diminuir; as taxas de juros podem diminuir um ou dois pontos, o que é quase nada; a política de arrocho salarial, idem. É provável que se engate de vez na terceirização do setor público, com o fim da estabilidade do funcionalismo público (proposta de Marcone Perilo/PSDB). Mais crise.

No pós-impeachment, dos 20 mil cargos comissionados atuais, uns 15 mil perderiam a rotina de poder construída em 12 anos de poder. Estariam na rua como ávidos combatentes de oposição. O PT e as siglas de apoio passariam a estilingue numa fração de minutos. Mais crise.

Os movimentos sociais, os sindicatos, as centrais sindicais da base aliada – contempladas em políticas públicas – sofreriam um revés poderoso na inclusão social e de empoderamento. A PEC 215 – revisão das reservas naturais e da demarcação de terras indígenas – seria a primeira de muitas. Mais crise.

É certo que o embargo do Poder Econômico das classes dominantes cessaria. Com o fim do blecaute ao “novo” governo, algum crescimento econômico pode ser esperado. Porém, como a tônica é de exceção política e de exclusão econômica, o desenvolvimento social permaneceria coisa do passado. Mais crise.

Como a retomada da economia não se fará por milagre, recessão e inflação vão ditar nossas vidas por muito tempo. O que, por fim, indica o crescimento exponencial do lumpemproletariado; os famélicos de hoje e de amanhã irão engrossar as fileiras do crime organizado. Dentro e fora do poder, a entropia social será combustível fácil para o terror. Com mais terrorismo social, mais crise.

Os egípcios sabiam que matando seus Faraós – em caso de extrema loucura de poder – abririam um expediente que, a qualquer hora, poderia ceifar os recém-empossados. Esta é uma lição que aprenderemos rapidamente. Aliás, como se viu na Guatemala e vê no Egito atual, na Síria, na Ucrânia e em tantos outros. A regra política constituída é simples: golpe baixo e contra-golpe. Crise sem fim.