A coluna desta quinzena é dedicada àqueles leitores que acompanham as nossas dicas buscando se preparar para o concurso mais concorrido do ano de 2015: técnico e analista do INSS. Para o concurso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no ano de 2012 foram oferecidas 1.875 vagas para 921.136 mil inscritos, sendo 909.337 para 1.500 mil vagas de técnico do seguro social, ou seja, em torno de 600 candidatos disputando cada vaga. A conclusão é simples, mas a matemática é muito cruel: 599 candidatos ficarão pelo caminho, enquanto somente 1 conseguirá alcançar o objetivo. Logo, toda atenção e foco são necessários.
O concurso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para 950 vagas, autorizado em junho e cujo edital deve sair até dezembro, será organizado pelo Cebraspe, antigo Cespe/UnB. Serão 800 vagas para técnico do seguro social (nível médio) e 150 para analista do seguro social, com graduação em serviço social.
Em busca da ou das respostas para a preparação perfeita buscamos auxílio ao nosso grande amigo Fernando Marinho, o qual explicou o método de estudo que ensina aos seus alunos.
Eis as dicas do professor Fernando:
“Como todos sabem (ou deveriam saber!rs), no último dia 1° de outubro foi escolhida a organizadora que cuidará de elaborar a prova do concurso do INSS: o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), conhecido por muitos pela antigo nome (CESPE) será a organizadora responsável.
Daí você já deve estar pensando: ferrou!! E eu lhe digo: depende. A escolha do CESPE (chamemo-lo assim) como organizadora tem pontos positivos e negativos. Neste artigo, iremos explicitar ambos para que você, futuro técnico ou analista do INSS, possa saber o que irá enfrentar.
Comecemos pelos pontos positivos.
Primeiramente, deve-se ter consciência de que não há mais necessidade de “fechar” a prova, ou seja, de se acertar todas as questões da prova para poder, nos critérios de desempate, permanecer dentro do número de vagas. E isso por uma razão muito simples: raramente alguém consegue fechar prova do CESPE. Há aqueles que vão muito bem, outros nem tanto e há os que vão muito mal. Mas todos, sem exceção, errarão ao menos uma questão. Se não errarem, certamente deixarão uma (ou mais de uma) questão em branco, o que seria equivalente a um “empate”. Logo, diferentemente do que ocorre em concursos da FCC (Fundação Carlos Chagas) em que é necessário gabaritar a prova inteira e, ainda assim, corre-se o risco de ficar fora do número de vagas caso elas sejam reduzidas, no CESPE essa “crueldade” não acontece.
Depois, ainda como positivo, é importante destacar que na prova do CESPE não é difícil saber o que se cobra: lei, doutrina e jurisprudência. E você, leitor/leitora, diria: mas o que isso tem de positivo? A vantagem é que se conhece antecipadamente o “adversário”. Você já sabe o que esperar, vai para a prova municiado, porque raciocinou nas três frentes (lei, doutrina e jurisprudência) e ainda complementou seu estudo com resolução de muitas questões. Pronto!
Mas em que o CESPE difere das demais organizadoras nisso? As demais organizadoras (FCC,VUNESP,CESGRANRIO, etc) são uma “caixa de surpresas”: em um concurso cobram somente texto de lei; no outro, migram para jurisprudência; no seguinte, doutrina, para depois voltarem para o texto de lei. Isso faz com que o candidato fique perdido, porque entre um concurso e outro ele prioriza uma espécie de estudo, em cima de lei, por exemplo, mas o concurso chega e a prova destrói todas as expectativas do candidato, porque só cai jurisprudência. O CESPE, pelo menos, é honesto: cobra tudo! Basta citar, como exemplo, a prova da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), realizada em 2014: na prova de nível médio (técnico) houve questões envolvendo lei, doutrina e jurisprudência. O “cardápio” é bem variado!
Agora, vamos aos pontos negativos.
Inicialmente, é importante frisar que a prova do CESPE é extremamente técnica. Não há margem para dubiedade conceitual: ou você sabe o conceito ou não sabe. Isso não quer dizer que o fato de você saber conceituar um determinado instituto é suficiente para você matar a questão. Não. Mas isso é condição inicial para você conseguir acertá-la. Assim, se é elaborada uma questão sobre princípio da impessoalidade envolvendo atos administrativos, é importante que você saiba os significados de tal princípio, envolvendo aí os raciocínios de imputação (José Afonso da Silva), finalidade/interesse público (Hely Lopes Meirelles) e isonomia (Celso Antônio Bandeira de Mello).
Mais. É necessário que você saiba os questionamentos acerca do nepotismo, o teor da súmula vinculante n° 13, do STF e por aí vai. Ou seja, saber o conceito do instituto é o mínimo, para começar a pensar nos desdobramentos restantes. Por isso, para provas do CESPE, tenha um conhecimento técnico, preciso. Se em uma prova de múltipla escolha de outra organizadora aquele que não é tão técnico, mas “dá sorte” no chute tem alguma chance, no CESPE a chance dele é reduzida drasticamente.
Outro ponto “negativo” é a extensão da prova. As provas do CESPE costumam ser extremamente cansativas, pois exigem do candidato um raciocínio mais rebuscado, fazendo com que ele se detenha mais tempo em uma questão. Quando a prova é de múltipla escolha, as coisas acabam indo mais rápido, em tese, porque há sempre duas ou três alternativas absurdas. Mas no formato de provas do CESPE, é só aquela assertiva. E quem realmente está comprometido com a aprovação, fica tentando desvendar “o que há por trás” da afirmação trazida na questão, o que acaba tomando tempo. Óbvio que estamos considerando que a prova seja no formato “Certo ou Errado”, pois do contrário, a dificuldade nesse ponto é igual em relação às provas das demais organizadoras.
Por fim, ainda como empecilho, há a questão do formato de prova: uma resposta errada anula uma certa. Aqui é necessário ter estratégia para se fazer a prova. Não adianta querer “fechar” a prova para ser “o cara” ou “a mina”, porque certamente quem pensa assim sairá devendo pontos. É preciso pensar em quais serão deixadas em branco, quais questões vale à pena arriscar e quais se tem certeza absoluta de que a resposta está correta. Portanto, o melhor jeito de se fazer as provas do CESPE é contabilizando o número de questões, verificando o peso delas e a existência de mínimos por grupo, para, só então, pensar em quantas arriscar e quantas deixar em branco. Óbvio que esse planejamento pressupõe a publicação do edital. Até lá, o jeito é estudar nas três frentes (lei, doutrina e jurisprudência), fazer exercícios e cruzar os dedos.
Esses são alguns aspectos que reputo importantes. A estratégia de estudo, a partir de um bom material, sucinto, mas voltado para concurso e com uma maior profundidade em termos técnicos, é imprescindível para não “morrer na praia”. Em provas do CESPE, cautela demais é ruim; arrojo demais é ruim. O melhor é pensar e agir como os romanos: “in medius virtus” (a virtude está no meio).”
Fernando Marinho é analista do Ministério Público de São Paulo, professor de Direito Administrativo e Direito Penal em cursos preparatórios e concurseiro.