Marília

Jovem e adolescente no contexto da desigualdade

Jovem e adolescente no contexto da desigualdade

Há diferenças entre ser jovem e adolescente no contexto da desigualdade social no Brasil? Uma perspectiva psicossociológica e laboral.  

Introdução

Para refletir sobre os significados que os termos adolescência e juventude suscitam na atualidade nos apoiaremos nas análises sobre as construções sócio-históricas dessas categorias e nas suas diversidades contemporâneas, especialmente as sociais, focalizando jovens e adolescentes que vivem a situação de desigualdade no seu local de moradia, na sua família, no seu trabalho para, assim, tentarmos encontrar uma melhor compreensão sobre como essas diversidades interferem nas formas de identificar e estabelecer as fronteiras entre essas duas fases de vida. 

Se ao longo dos tempos as noções de adolescência e juventude sofreram variações de significados, atualmente a imprecisão desses termos pode ocorrer dentro de uma mesma sociedade. Portanto, para falar de jovem e adolescente nos dias atuais é preciso que realizemos outros recortes, que vão além dos limites etários convencionados genericamente no mundo ocidental. 

Acreditamos na hipótese de que ao realizarmos o recorte sobre o lugar social ocupado por esses dois grupos, encontraremos sim uma distinção sobre as noções de adolescência e juventude, mas esses significados estarão ancorados e particularizados no contexto social que abriga essa diferenciação. 

Nosso ponto de partida é o jovem e o adolescente e procuramos compreender, através da pesquisa que fundamenta esse trabalho, como seus modos de vida, suas expectativas, conflitos, problemáticas comuns e consequentes leituras de mundo e de pertencimento, interferem na forma como eles se representam, se sentam representados e se diferenciam entre as condições juvenil e adolescente, tendo em comum a mesma condição social desfavorável. 

Para tanto, foram observados, ouvidos e entrevistados um grupo juvenil, de faixa etária entre 14 e 32 anos, habitantes da periferia da cidade de Marília – SP, a respeito dos seus gostos, preferências, dificuldades e expectativas, bem como, sobre as suas percepções acerca da diferença entre ser jovem e adolescente. As discussões realizadas no decorrer da pesquisa revelaram uma problemática comum, que é a preocupação com o trabalho-emprego, mas também apontaram características próprias para diferenciar os modos de vida e de “pensar a vida” em cada uma dessas fases.    

A questão que intitula este trabalho, “Há diferença entre ser jovem e adolescente no contexto da desigualdade social no Brasil?”, contudo, não foi formulada a partir dessa única pesquisa, trata-se de uma indagação que vem sendo construída no decorrer de outraspesquisas que venho realizando com jovens pobres brasileiros, ao longo dos últimos 15 anos,e que se insere também nas investigações de um grupo de pesquisa internacional denominado “Jeunes, Inégalités Sociales et Périphéries”.

Esse grupo internacional de pesquisa, sediado na França a partir de 2006, busca aproximar a realidade vivida por jovens e adolescentes de periferia em diferentes países,através de pesquisas que possam revelar a percepção que esses próprios sujeitos têm sobre assuas próprias condições, juvenil ou adolescente. A confrontação dessas percepções entre os grupos de jovens dos países participantes visa a reflexão sobre o universo juvenil, com a referência desses próprios sujeitos e a partir dos seus locais de moradia, ou seja, as periferias dos centros urbanos. No encontro bianual desse grupo em 2009, decidiu-se aprofundar as investigações acerca de como esses sujeitos estabelecem as fronteiras entre a adolescência e a juventude, e definiu-se metodologias de pesquisa comuns entre os países participantes –Brasil, França, Rússia, Senegal, Itália, Bélgica, Israel, Palestina e Ucrânia -, que pudessem ser aplicadas pelos pesquisadores e apresentadas no encontro seguinte, em 2011, entre elas a apresentação de um vídeo que registra e ilustra as análises empíricas desse trabalho.

Dessa forma, estruturamos o presente texto da seguinte maneira: primeiramente traçamos uma breve discussão sobre como a ciência tem tratado o conceito de adolescência e juventude; em segundo lugar, traçamos o contexto em que os jovens e os adolescentes brasileiros da região pesquisada estão inseridos para, juntamente com as análises das entrevistas, verificarmos a pertinência desses conceitos, de acordo com a fala dos entrevistados.

Viviane Giroto Guedes
Viviane Giroto Guedes – Professora Unesp Assis – Departamento Psicologia Experimental e do Trabalho