"O Natal em Belém"

José e Maria eram pobres, pessoas simples, dois migrantes em busca de um lugar próspero para habitar, de uma casa própria para a família, de um local seguro para repouso. Nos faz lembrar dos migrantes do terceiro mundo que atualmente buscam melhores condições de vida em solo europeu. Hoje, nos tempos modernos, migrantes atravessam mares. Ontem, nos tempos bíblicos, migrantes atravessavam desertos. Gentes distantes e diferentes querendo romper fronteiras. Maria e José fugiam da miséria econômica, já que a Palestina era explorada por Roma, e a agricultura passava por dias difíceis. Fugiam da ditadura de um governador que havia ordenado que todas as crianças fossem mortas, sem choro e sem dó. Fugiam da corrupção, da falta do direito ao não, do vexame da pobreza, da falta de fé e beleza. Nos faz lembrar do Brasil de hoje, que deixa crianças morrerem por falta de cuidados, e onde os engravatados roubam de nosso bolso e comem da nossa mesa. Maria está grávida, descabelada, pequena, adolescente. José, homem forte da carpintaria, era perseguido por seus parentes e amigos, por ter dito que seu filho era da semente do Espírito. O casal fugia, à procura de um abrigo no buraco do mundo. Quem de nós ainda procura um lugar neste vasto mundo?

Diante disso, Deus vem. Acha um lugar entre nós, junto aos deslocados. Escolha a sujeira, o incômodo de uma cama feita no chão, sem molas, mas sem esmolas: Deus se deita numa manjedoura. Vem como gente, com cheiro de animais: Deus se acolhe numa estrebaria. E nasce em Belém, que significa “casa de pão”. Na periferia, Deus faz sua morada, e nessa casa há fartura. Deus chora aos berros, nascido de mulher. Maria dá a luz. Deus dá a Luz. Mas, quase ninguém ouviu. Deus veio, mas quase ninguém viu. Somente os simples, os animais, a noite, os sujos, os anjos, os pastores, os reis magos, o deserto, as estrelas, os sonhos, os contos, os cânticos, os perdidos, a vida. Deus achou um lugar entre nós, para salvação e esperança de toda aquele que crê: Jesus, menino, seja bem vindo entre nós – nosso pão, nossa morada, nossa justiça.