A violência política nunca explodiu abertamente no Brasil. Não tivemos na vida nacional situações e escalas semelhantes ao que ocorreu nos Estados Unidos nos anos 60, na Itália na década de 1970, na Irlanda do Norte ou na América Central nos anos 80. Na década de 1990, os últimos momentos do regime racista do Apartheid, na África do Sul, resvalaram para uma guerra civil latente e que só foi contida pela libertação de Nelson Mandela.
A ditadura militar no Brasil, instaurada pelo golpe de Estado, em 1964, conheceu oposição frontal. Mesmo a luta armada e a guerrilha nunca resultaram em violência aberta e nas ruas. A violência foi recorrente e mal dissimulada nos porões de delegacias e dos órgãos de repressão política. Tortura, espancamentos, sequestros, desaparecimento de pessoas e ocultação de cadáveres recheiam os relatórios de violação de direitos humanos no Brasil. Ainda hoje são praticadas sem disfarce e envergonham o nosso País perante o mundo.
Os episódios recentes que envolveram o presidente Lula nas investigações sobre a corrupção no Brasil despertaram dúvidas quanto às reações sociais diante de fatos pouco protocolares no funcionamento do Poder Judiciário e da imprensa profissional. Houve conflitos, enfrentamentos e pancadaria em vários pontos. Acredita-se que outros virão. Irão transbordar em situações e momentos determinados ou brotarão fácil e rapidamente?
Há um ressentimento social concentrado nas camadas médias, altas e baixas, decorrente da rápida e intensa perda no padrão de consumo destes segmentos nos últimos dois anos. Há um ressentimento político agrupado na oposição pela derrota nas eleições em 2014. A estes somam-se os ressentimentos pessoais que brotam das divergências no seio da aliança governista. O patético e a mediocridade com que estes ressentimentos emergem no debate público são conhecidos e difundidos diariamente nos meios de comunicação.
Inesperadas são as perspectivas de que no Brasil do século XXI a violência política aberta e sistemática desponte como novidade histórica nas ruas de nossas cidades. A reação do PT e demais partidos que apoiam o governo e os presidente Lula e Dilma, dos movimentos sociais e de personalidades da vida cultural e econômica serão mais e melhor conhecidas daqui em diante. É reação previsível em resposta aos ataques que sofreram.
A interrogação maior está no campo da oposição. O ex-governador paulista, Claudio Lembo, afirmou que a oposição não soube ganhar as eleições e também não sabia perder. Insuspeito, ele sugere pensar na responsabilidade política do PSDB e de seus aliados. Serão agentes da violência política no Brasil do século XXI? As declarações de Aécio Neves e o silêncio de outras lideranças indicam que sim. A violência política poderá resultar em tragédia nacional de grande proporção e desdobrar-se em consequências imprevisíveis.