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Competição de medicina tem acusação de preconceito na região

Competição de medicina tem acusação de preconceito na região

Uma competição entre estudantes de medicina de diversas cidades do Estado terminou com uma denúncia de preconceito e diversas mensagens de repúdio ao comportamento de futuros médicos da Faculdade de Medicina de Jundiaí.

Os estudantes foram acusados de usar como ofensa a gritante maioria de estudantes cotistas entre os alunos da Unicamp, uma das mais reverenciadas instituições do país.

Com os corpos pintados por letras para formar a palavra COTAS, os estudantes de Jundiaí transformaram a torcida dos jogos em crítica aos alunos das políticas de inclusão. A FMJ é uma faculdade particular, com mensalidades na faixa de R$ 4.500, fundada em 1968.

A Pré-Intermed reuniu competidores em diversas modalidades entre os dias 18 e 27 de março e o comportamento dos alunos de Jaú provocou acusações de preconceito e elitismo. A manifestação provocou reações de médicos, movimentos sociais  e de estudantes.

Representantes do Daca (Diretório Acadêmico Cristiano Altenfelder), da Famema (Faculdade de Medicina de Marília) divulgaram carta em que repudiam o comportamento dos alunos de Jundiaí.

“É com pesar que recebemos, sistematicamente, relatos de violências de toda sorte ocorridas nas competições esportivas organizadas pelos estudantes de medicina nos últimos anos”, diz o documento. “Gostaríamos de prestar solidariedade aos estudantes que se sentiram ofendidos com o ocorrido”.

Veja a íntegra da nota divulgada pelo Daca:

“NOTA DE REPÚDIO

A gestão “Primavera nos dentes”, do Diretório Acadêmico Christiano Altenfelder da Medicina FAMEMA, vem a público manifestar-se em relação aos ocorridos da Pré-Intermed 2016, organizada em Lins – SP.

Na contra-mão da história, na pré-intermed desse ano, de maneira elitista e preconceituosa, estudantes de medicina da FMJ tentaram utilizar como ofensa o fato da maioria dos estudantes da UNICAMP ter sido beneficiária de políticas afirmativas, as Cotas. A despeito das discutíveis limitações das políticas afirmativas adotadas pela UNICAMP enquanto processo de inclusão e ampliação do acesso ao ensino superior público, gostaríamos de manifestar nosso profundo repúdio ao gesto de estudantes que lançam mão de ofensas desse escalão para ofender a honra e a dignidade de seus colegas, bem como repudiamos qualquer outra ofensa que reforce valores retrógrados e preconceituosos.

É com pesar que recebemos, sistematicamente, relatos de violências de toda sorte ocorridas nas competições esportivas organizadas pelos estudantes de medicina nos últimos anos. Reconhecemos a importância da prática esportiva saudável enquanto elemento essencial de promoção da saúde dos estudantes. No entanto, questionamos os reais propósitos aos quais as competições entre as faculdades de medicina têm servido.

Em anos anteriores, a gestão do DACA manifestou descontentamento com a atitude de estudantes que buscaram, de maneira infeliz, utilizar a condição de “profissional de enfermagem” enquanto ofensa aplicada aos estudantes de medicina adversários na pré-intermed, reforçando tanto a hierarquia artificial e o elitismo que ainda se perpetuam em muitos serviços de saúde, quanto o próprio preconceito interno que existe quanto a outro curso da própria instituição.

Em um contexto em que espera-se esportividade, amistosidade, respeito e integração entre atletas e membros de instituições distintas, infelizmente, observa-se agressividade, deslealdade e violações de direitos fundamentais em diversas situações, sobretudo quando a necessidade de ofender e humilhar o adversário sobrepuja o impulso de apoiar os colegas de faculdade em quadra. A extrema competitividade travada entre as faculdades de medicina, combinada à naturalização e banalização da violência entre pares, tem servido como fator disparador de gestos que visam o escárnio e a opressão dos estudantes considerados “adversários”.

Nesse contexto, violências físicas são combinadas a ofensas que frequentemente reforçam estereótipos e valores preconceituosos, muitas vezes elitistas, machistas, racistas e homofóbicos; ganhando falsa legitimidade para se perpetuar entre os estudantes.

Reiteramos nosso repúdio a todo tipo de manifestação que reproduza preconceitos e esteriótipos que sustentam e acentuam o abismo social em nossa sociedade, bem como gostaríamos de prestar soliedariedade aos estudantes que se sentiram ofendidos com o ocorrido. Estimulamos a reflexão para que esse tipo de ideário e comportamento sejam modificados, de modo a promover ambiente mais saudável nas competições esportivas da medicina.”