A Organização Não Governamental (ONG) Rio de Paz está promovendo hoje (6), durante todo dia, um ato público na praia de Copacabana, zona sul do Rio. É para denunciar e repudiar abusos sexuais sofridos por mulheres. Na manifestação, 420 calcinhas, doadas pela empresa DuLoren, estão estendidas na areia, representando a quantidade de mulheres estupradas a cada 72 horas no Brasil. Por ano, são 50 mil. Uma exposição com 20 fotos de mulheres está sendo vista pelo público.
O fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, disse que o número de 50 mil casos de estupros se refere apenas aos que foram notificados. Segundo ele, há muito mais vítimas desse tipo de crime, o que só reforça a importância da luta pela segurança feminina.
Fim da impunidade
De acordo com Costa, esses números dizem respeito apenas aos casos em que as vítimas registraram a ocorrência policial. “Acredita-se até que 50 mil casos sejam apenas 10% do número real de mulheres que já sofreram essa atrocidade. É uma patologia social. Para combater, é necessário acabar com a impunidade. Que identifiquem os culpados e que punam. Em segundo lugar, implementação de políticas públicas em comunidades carentes nas quais há o maior contingente de mulheres expostas a essa violação de direito”, disse.
Costa afirmou que existe uma relação entre o estupro e o nível de escolaridade que a vítima possui. “Quanto mais baixo o nível [de escolaridade] mais risco a mulher corre de estar exposta a essa prática criminosa. Por isso, é essencial existirem políticas públicas e o reforço na educação para mulheres dessas regiões mais carentes. Sem esquecer do apoio psicológico para as vítimas. É obrigação do Estado abraçar as vítimas, já que a partir de uma experiência amarga como essa, elas carregam um trauma muito acentuado que fere a natureza feminina. É da natureza delas não dissociar sexo de afeto. Imagina quando ela se vê forçada a se relacionar com alguém pelo qual ela não sente paixão, amor ou atração, e sim repugnância? É um crime bárbaro”, opinou.
Fotos na praia
O fotógrafo Márcio Freitas, responsável pela exposição “Não me Calarei”, classificou a experiência da sessão de fotos como “dolorosa” e lembrou que a dor de conhecer alguma mulher vítima de estupro, no caso dele, vem de dentro da própria casa.
“Foi um processo muito doloroso. Eram muitas meninas e mulheres com diversas histórias tristes, marcadas pela dor dessa violação. Até minha mãe quis participar, porque ela já foi vítima de uma tentativa de estupro dentro de um táxi. Eu me senti muito mal pelo fato de ser homem e estar ali diante delas, porque, querendo ou não, você acaba representando o agressor, mesmo não sendo. É uma situação muito dura estar ali. Pior ainda, é e foi para elas terem que se expor dessa maneira. Mas foi um trabalho muito bonito, onde todas conseguiram expor raiva e medo desse cenário. Muitas choraram e tiveram momentos muito emocionantes para cada uma”, contou.
Freitas afirmou que o fato de que a cada dia mais as mulheres estarem lutando para trazer à tona esses casos faz com que toda uma geração cresça com a consciência de que este é um tema delicado e que necessita de atenção e cuidado.
“O nosso foco é gerar um debate para que as novas gerações não cresçam como a minha. Eu tenho 30 anos e cresci ali pelos anos 80 e 90, e essa minha juventude não pôde ter a liberdade de receber informações e se educar quanto ao tema”.
Protesto contra violência
A estudante Bárbara Neves, uma das modelos da exposição, disse que o ato não está sendo promovido apenas pelo episódio de estupro coletivo contra uma jovem no Rio de Janeiro, mas sim contra todos os casos e tipos de violência contra as mulheres.
“Seja violência psicológica, física, etc. A importância que eu vejo aqui é de ressaltar que cada mulher tem que fazer a sua parte. É uma causa de todas. Nós mulheres, andando na rua, convivemos com um medo constante de sofrer algo, especialmente de noite, quando se está sozinha. Até por conta disso é importante debatermos o tema. A gente não consegue andar na rua sem ser ameaçada, ouvir uma gracinha ou ser alvo dos olhares de um homem. Isso precisa mudar”.