A população de Marília quer mudanças políticas e de administração. Quase 60% dos eleitores disseram não ao atual grupo no poder. Com 45% dos votos, o empresário Daniel Alonso foi escolhido como nome para fazer as mudanças. E que ele tenha muito sucesso nisso.
Mas a história mostra que a mudança precisa ir muito além da eleição para durar mais que um mandato e convido você, caro leitor, a pensar sobre estes desafios e passar os próximos quatro anos de olho em algumas situações que vão definir se a cidade muda ou não.
– A dinastia
Diferente da imagem geral, Daniel não é o salvador que venceu o gigantes após 40 anos de terror. Camarinha já perdeu outras duas eleições – a mais clamorosa derrota em 1992, para o promotor aposentado José Salomão Aukar -.
A imagem de que nada mudou é fruto do fracasso em levar a mudança além dos quatro anos de mandato, seja por boicote, jogo, sujo, falta de experiência, condições políticas e econômicas ou, como na última vez, falta de vontade mesmo, quando Vinícius perdeu para o antigo amigo Mario Bulgareli, em mandato que virou lambança.
Ou seja, ganhar de Camarinha não implica em mudar a cidade ou acabar com seu grupo
– Os nomes no poder
Em torno do candidato Vinícius havia 22 partidos, quase todas legendas controladas diretamente do gabinete do prefeito.
Em torno de Daniel havia menos partidos, mas pelo menos quatro potenciais candidatos a prefeitos, com grupos próprios, opiniões próprias e clima de disputa por espaços que ficou marcado até na convenção.
Dar espaços a todos para que as mudanças sejam implantadas, organizar os diferentes projetos para que eles sejam permanentes, e não de um mandato, e mudar as relações políticas com a sociedade, para não dar espaço a retrocessos são o desafio.
Não vai adiantar distribuir cargos sem mudar o jeito de fazer administração. Não vai adiantar encaixar todo mundo no governo se não encaixar novo jeito de fazer política e atrair o cidadão.
Daniel não é o dono do grupo e todos os apoiadores que ganharam com ele não são os donos da caneta. A relação que vão estabelecer influencia o sucesso do mandato e do projeto de mudança.
– A Câmara
Vinicius teve durante sua gestão dez votos fieis e quase sempre em um perfil de “silencio obsequioso” para os acertos e erros do mandato. Daniel não tem esta maioria e vai ter que articular suporte em algumas votações, o que inclui vereadores que apoiaram e são muito próximos a Vinícius.
Isso sem contar o fato de que os vereadores que estão com o novo prefeito são todos críticos, de opiniões fortes e pessoais marcantes, a quem é preciso convencer para pedir votos.
Mudar envolveria transparência, debate com a coletividade, jogo aberto com os vereadores, respeito à Câmara, nada goela abaixo. Vai mudar?
– A população
Daniel será o prefeito de todos os marilienses, mas não foi o eleito por todos. Terá alguma oposição na Câmara, terá oposição de partidos e movimentos ligados a Camarinha.
Recebeu 45% dos votos, muitos dos quais em protesto contra Camarinha. Ou seja, teve contra ele 55% dos eleitores.
Para mudar a cidade precisa cumprir promessas, atender as expectativas que já existem e as que vão chegar, criar novas relações com os moradores, sem fazer média com a meia-dúzia de agitadores que posam como donos de bairros, criar espaços coletivos, levar a administração à população, melhorar a saúde, os espaços públicos.
– O governo
Daniel assume com discurso de boa relação com o governo estadual, que hoje não dá lá muita bola pra cidade – a ponto de querer pedágios entre distritos e a cidade – além de pastas rachadas, com amigos nos dois lados. Ou seja: se Daniel for muito subserviente não muda nada. Se trombar e não conseguir o suporte que a cidade precisa também não muda nada.
– “Segundo turno”
Superar a influência política de Camarinha e seu grupo será uma eleição de “dois turnos”, o segundo deles daqui a dois anos, na votação para deputado estadual e federal.
Esta é uma disputa em que a cidade não tem avançado muito, especialmente por influências regionais. Houve mudanças em muitas cidades, Daniel e o grupo em torno dele têm a chance de ocupar mais espaço para poder mudar a política aqui e em toda a região. Como vão aproveitar a chance vai definir se a cidade muda.
– A gestão
Por fim, o maior desafio de Daniel: gerir a cidade de forma diferente. Descentralizar, acabar com a sensação de favores aos amigos, mudar os hábitos tão criticados, como pagamentos antecipados, falta de transparência, créditos adicionais, as mesmas empresas de sempre nas licitações,
E tudo isso com uma máquina muitas vezes engessada e em muitos setores controlada por defensores de Camarinha.
Ou seja, vencer o grupo de Camarinha foi importante, mas não pode ser este o maior triunfo de Daniel. Aliás, bom seria que ele e seu grupo logo esquecessem este momento de glória para focar no principal: mudar. E mudar vai muito além de trocar o sobrenome do prefeito.