Marília

Folha repercute falecimento de Fábio Villaça Guimarães

Advogado e professor universitário Fabio Villaça Guimarães – Arquivo Família
Advogado e professor universitário Fabio Villaça Guimarães – Arquivo Família

A perda do advogado e professor Fabio Villaça Guimarães, falecido aos 89 anos no último domingo, repercutiu em uma coluna especial de obituário divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo.

O jornal publicou um artigo da jornalista Luísa Leite com um resumo da representação do jurista no mundo jurídico e na cidade. Uma homenagem mais que merecida

“Meu pai foi um cidadão exemplar, fora o pai, fora o profissional. Era um cidadão muito consciente dos problemas da cidade, de questões políticas. Poderia dar aulas sobre ética, mensalão, injustiças. Um homem muito minucioso, com uma forma brilhante de falar”, conta a filha, a escritora Telma Guimarães.

Ela, os irmãos e o resto da família puderam desfrutar mais deste conhecimento e história de vida depois que o jurista se aposentou das atividades como professor universitário – há aproximadamente 20 anos – apesar de manter o escritório de advocacia por muitos anos a mais.

“Descobrimos a infância, adolescência. Até então ele saía 6h30 e voltava 23h30. Passava final de semana com provas ou casos, material de faculdade. E foi muito bom. Ele teve tempo para desacelerar. Mas nunca descuidou da leitura.”

Enquanto a cidade teve boas livrarias, Fábio Villaça foi comprador contumaz de obras e chegou a manter sistema de conta em algumas delas para que os filhos passassem para escolher lançamentos em livros.

Nos últimos anos passou a ser socorrido por Telma com compras feitas em Campinas e pela internet. Lia muito também o que ganhava de ex-alunos, escritores, juristas.

“Um prazer era comprar os livros para ele. A gente lidando com acervo agora pode descobrir a quantidade de livros que ele leu ao longo de 20 anos em que se aposentou de aulas. E ele doou grande parte da sua biblioteca.”

Nos livros que guardou, anexava artigos, comentários, mensagens. Uma das descobertas foi uma carta ao escritor Frei Beto, sobre um artigo escrito em um jornal. Lia também jornais e revistas. E a partir de tudo isso deixou lições.

“Um ditado dele era lute até o fim…vamos encarar. E é isso. Nós, a família, vamos ter que encarar a ausência mas olhando para este legado. Não podemos reclamar de nada, do cidadão que pudemos compartilhar, beber desta fonte e nos espelhar.”

Muitas das histórias foram inspiração para livros, textos e palestras de Telma, uma escritora de reconhecimento nacional por sua obra infanto-juvenil.

“Quem lê muda o mundo, fica crítico e meu pai lia muito. Graças a Deus foi reconhecido em vida pelo Tribunal do Trabalho em Brasília.”


Livro da escritora Telma Guimarães inspirado em histórias do pai, o jurista Fábio Villaça Guimarães – Reprodução

Veja abaixo a íntegra da homenagem postada no jornal Folha de S.Paulo

FÁBIO VILLAÇA GUIMARÃES (1927-2016)
Mortes: Advogou por trabalhadores em Marília

Após a morte de Fábio, sua mulher e filhos se reuniram para realizar uma tarefa muito difícil: organizar seu escritório. Durante a vida, o advogado foi um ávido leitor.

Entre as centenas de livros na biblioteca, muitos vinham com dedicatórias. Nelas, promotores, juízes, ministros e advogados expressavam sua gratidão pelo professor com quem aprenderam tanto. Por 20 anos, Fábio lecionou na Faculdade de Direito de Marília, que ele próprio fundou nos anos 70.

Na sua época de estudante teve que se deslocar semanalmente até Niterói para aprender a profissão. Nos cinco anos como estudante, sentiu saudade da cidade, dos pais, irmãos, e da linda garota que passava todos os dias em frente ao cartório onde trabalhava.

Mais tarde, aprenderia que seu nome era Diva. Não sabia, na época, que permaneceriam casados por 64 anos.

Entre os livros, o advogado guardava anotações dos seus casos trabalhistas. Cobrava apenas daqueles que poderiam pagar, dizem os filhos. Em um deles, defendeu a viúva de um lavrador que lutava por uma pensão por invalidez. Após ganhar a causa, a moça, para agradecer, enviou à família um peru de natal, vivo. Fábio não teve coragem de abater a ave, e a criou no quintal. Em suas anotações, escreveu sobre o episódio: “Quando estiver no além, lutando por meu lugar no Céu, o caso marcará muitos pontos em meu favor”.

Morreu no domingo (9), aos 89, vítima de uma infecção. Deixa a mulher, três filhos, Fábio, Telma e Diva, oito netos, uma bisneta, três irmãos e sobrinhos.