No início dos anos 2000, um verborrágico prefeito famoso por frases de impacto, brincava com amigos e assessores cada vez que recebia um pedido ou projeto que seria engavetado: vamos fazer, assim que resolver o problema do sargento Garcia.
Para quem não é tão velho ou não liga a frase ao seriado de TV, resolver o problema do sargento Garcia seria prender o Zorro, o que nunca aconteceu. O projeto fica ali, esperando o Zorro ser preso.
O prefeito de então, os seguintes, os amigos e assessores e a população não sabiam, mas a cada engavetada, em cada promessa não cumprida, a cidade desenvolvia uma nova empresa municipal: a Empaca, que pode ser identificada ao gosto do freguês.
Eu chamaria de Empresa Municipal Parada e Calma. Você, leitor e leitora, dê o nome que quiser à sigla. Ela é uma ficção, assim como as promessas de serviços e obras que ficam empacados.
Enquanto você pensa se o lixeiro vai passar na sua rua ou se a água vai chegar à sua torneira, a Empaca assume os serviços e eles ficam assim, empacados.
A Empaca não tem dirigentes ou uma sede e aí está sua grandeza: atua em todas as secretarias, todas as áreas de serviço público.
Estão com a Empaca grandes projetos, grandes necessidades da cidade. Não é uma criação da atual administração, embora com ela a Empaca tenha crescido de forma vertiginosa, especialmente nos últimos meses.
Destinação do lixo, regularização de contratação de empresas de transporte, coleta de entulhos, conservação de ruas, salários da saúde, merendeiras… Todos empacados.
A promessa de salvar o Daem? Empacou.
Tratamento do esgoto, “a obra do século”, empacou.
A UPA, construída com dinheiro do governo federal, ficou meses empacada até a Procuradoria da República cobrar providências.
As obras na favela? Empacadaças.
Desenvolvimento do esporte na cidade para segurar as grandes revelações? Empacou.
Fiscalização da Câmara? Empacada. Por 10 a 3.
Transição de governo? Melhor perguntar ali na Empaca.
Em alguns casos, como no lixo, a Empaca mexe no orçamento – e no seu bolso – mesmo sem fazer nada, pelo simples fato de render multas, prejuízos, perda de material, de patrimônio. A Empaca custa caro.
E com tudo isso, com tantas perdas, é triste chegar à conclusão de que hoje, a 45 dias de mudar o prefeito, o que poderia acontecer de melhor é que a Empaca assumisse ainda mais controle da gestão.
É uma temeridade cada vez que a administração tira da Empaca alguma decisão. O serviço desempaca, mas sempre deixa um rastro com a nítida sensação de que em algum lugar vai empacar depois e ficar mais caro.
Veja o Plano de Carreira. Empacado há anos e anos.
Querem desempacar agora com pegadinhas que comprometem a receita da próxima gestão, criam injustiças, amarram até a decisão de qual servidor de carreira será nomeado para dirigir sua área.
No meio de uma lei com grandes possibilidades, querem dar um jeito de empacar a vida de quem vem aí. E não importa se empacar também a cidade.
A cada dia parece mais fácil prender o Zorro que tirar a Empaca de Marília.