Marília

A conta paga duas vezes e os novos donos do caixa

A conta paga duas vezes e os novos donos do caixa

Recheado de nomes mais experientes, com a bagagem de infinitos mandatos, com o grupo político mais forte da cidade, o prefeito Vinícius Camarinha (PSB) faz um final de mandato desanimador.

A gestão que escondeu da cidade uma epidemia que custou a vida de marilienses e dói em suas famílias até hoje também escondeu da população um rombo nas contas que vai custar caro por muitos meses ainda.

Com toda experiência e nomes importantes, Vinícius Camarinha não teve paz nem dentro de casa, viveu uma instabilidade única com itenso troca-troca de secretários que chegou ao maximo quando não conseguiu achar um profissional da saúde disposto a assumir a pasta. Termina a gestão com medidas de última hora para melhorar sua relação com a lei de responsabilidade fiscal e julgamento das contas.

Só não vai ficar pior porque parte do rombo foi feito na saúde, que deveria ser prioridade, e exigiu da Câmara e da coletividade boa vontade com o acerto dos gastos mal feitos e o parcelamento dos débitos é uma medida triste feita tomada com sensação de conquista. O que se fez com as contas é vergonhoso em termos de gestão e em termos de relacionamento com a coletividade.

Isso tudo com um prefeito jovem, de perfil dinâmico, com experiência de mandatos na Assembleia, de braços dados com o governo do Estado (que, aliás fez muito pouco pela cidade) e com formação acadêmica de alto nível, inclusive em gestão pública. O currículo do prefeito e do secretariado não se converteram em soluções e ainda deixam problemas pra lá de graves.

Os danos vão se estender por anos à frente. O presente de crise vai cobrar a conta no futuro próximo e em um cenário de muitas necessidades a cidade tem muito a reconstruir antes de pensar em melhorar.

É uma conta que o cidadão já pagou em forma de impostos, falta de serviços, ruas esburacadas, saúde em crise, lixo na porta de casa, grandes obras que viraram grandes frustrações e desperdícios como uma sanha para reformar praças enquanto não pagava salários e nem a conta da coleta do lixo. Praça nenhuma fica linda com o lixo esparramado na calçada.

Neste quadro, o secretariado de Daniel Alonso ganha espaço para ser uma grande revelação. Não é um secretariado de celebridades mas consegue apresentar profissionais que apesar de desconhecidos do grande público guardam experiência em suas áreas e até em gestão pública.

E se faltam grandes nomes na gestão – como foram no passado o médico Ênio Duarte, reconhecido em nível nacional, ou o também médico Adolpho Menezes, inspirador do projeto Pequeno Cidadão – é um secretarido com possibilidades de um trabalho coeso, unido e eficiente.

Veja bem, possibilidades. Eles têm um compromisso grande de fazer justiça a esta esperança da coletividade.

Um destaque a considerar nas nomeações é o fato de que não há um secretário de governo, um chefe de gabinete ou qualquer outro nome a reboque para ser o articulador político ou sair falando pela cidade em nome do prefeito.

O próprio Daniel Alonso vai fazer pelo menos nos primeiros cem dias de governo a articulação política da gestão. Dá a ele o controle dos relacionamentos, a definição de como a administração vai tratar os vereadores e como será a relação com a sociedade organizada.

Significa dizer que tanto acertos quanto erros poderão ser atribuídos 100% ao prefeito. É um aposta correta.

Alguns dos nomes sofrem críticas pesadas, a maior parte das indicações está longe de representar uma inovação e isso só amplia a responsabilidade de Daniel e seu grupo.

Todo novo governo começa em lua de mel com o cidadão. Todo velho governo começa na oposição, que aliás, já é agressiva e como já dito aqui está em novo turno eleitoral de olho em 2018. É tempo suficiente para gerar desgastes ao novo governo, pouco tempo para grandes mudanças.

Mas a fórmula do acerto pode ser até simplista. Caso consiga dar mais transparência às contas e à gestão,  dar uma cara só à administração, controlar todos os egos dentro do jogo político e ajustar os serviços públicos, Daniel e seu time sem notáveis já terão feito muito mais do que se conquistou no passado recente da cidade.