Marília

Demolição enterra bar Bambu e parte da história de Marília

Prédio onde funcionou Churrascaria e Bar Bambu em Marília foi demolido – Vera Ros
Prédio onde funcionou Churrascaria e Bar Bambu em Marília foi demolido – Vera Ros

Uma demolição a partir de 7h desta sexta-feira enterrou no centro de Marília um dos capítulos mais impressionantes da vida boêmia e cultural da cidade: a história do restaurante e Bar Bambu, que por três décadas reuniu clientes e memórias em Marília.

Erguido em 1962 pelo empresário Alcides Fassoni, o Bambu nasceu como churrascaria e bar. Atraiu empresários, políticos, líderes nacionais e foi ponto de encontro para importantes figuras e momentos da cidade.

Montado na esquina das ruas Coronel Galdino e 4 de Abril, testemunhou toda a vida política, movimento social, o “footing” dos jovens e a revolução arquitetônica, urbana e de costumes que atingiu a praça Saturnino de Brito.

Luiz Antonio Fassoni, um dos nove filhos de Alcides, conta que A idéia de criar o bar surgiu quando foram fechados os salões de carteado e jogos na cidade no governo do então presidente Jânio Quadros.

“Um salão de carteado funcionava no Hotel Marília. Quando o Jânio proibiu o jogo meu pai montou o Bambu, na época com apoio do Santo Barion (fundador da Ailiram, hoje Nestlé), que queria ajudar um sobrinho, Wilson”, conta Fassoni.

Foi um sucesso regional e de repercussão em muitas partes do Estado. “Ás vezes tinha gente na porta às 4h esperando. Fechava às 6h para limpeza, faxina e reabria 6h30. Não fechava nunca”, explica Luiz Fassoni, criança na época.

Alcides manteve o sócio até 1972, quando tornou-se único dono. Manteve ritmo intenso – só se afastava do restaurante na sexta-feira santa e no dia 1º de janeiro – e um controle próprio. A cada dia, ao olhar para as prateleiras e geladeiras, tinha rapidamente cálculo de tudo o que fora vendido.

E era muito. Até 70 caixas de cerveja, lanches famosos como o lombo enrolado ou sanduíches de carne e queijo. Cerveja gelada, vista para a praça, chope. O Bambu, como bar ou restaurante movimentava a cidade.

A churrascaria manteve o ritmo intenso e o estilo de Alcides até seu falecimento, em 1974. Passou a ser administrada por um dos filhos, Tuca, que agregou ao ponto movimento jovem e cultural, vivenciado também pelos irmãos, com estilo mantido até a década de 80.

“Era uma época de força da MPB de grandes shows, festivais. E em um destes shows esteve em Marília o Moraes Moreira. Quando acabou o show, ele e um grupo de pessoas foram ao bar. Lá, com as portas fechadas, teve muito papo, música. E ali ele nasceu a música “A Mulher e a Cidade”, contra Luiz Fassoni.

O próprio cantor já contou que criou a música depois de rodar pela cidade e ler no prédio da prefeitura a inscrição “Símbolo de Amor e Liberdade”.  “Ele leu a frase ali, sentado no Bambu, na praça em frente à prefeitura”, diz Fassoni.

O afastamento de Tuca e da família, o esvaziamento da praça, novos costumes afastaram clientela. O bambu definhou, virou bar de pouco movimento até seu fechamento, no início dos anos 2000.

Em 2005 houve discussão de herdeiros para reabrir o bar e até alguns investimentos em reforma. Mas faltou suporte para fazer a estrutura que um ponto com a memória do Bambu e os novos padrões de consumo exigiam. O Bambu não voltou.

Na manhã desta sexta a história e a vontade de ter o bar reaberto foram enterradas na pilha de escombros do prédio.