Marília

A avenida, a sujeira e a cidade

Com um atraso de pelo menos 24 horas, a avenida Cascata, ao lado da represa que leva o mesmo nome, está limpa. A passagem de um bloco com participação popular e caráter social de arrecadação de leite deixou rastro de sujeira que não combina com o evento.

Justamente pela responsabilidade social e vanguarda política o evento deveria ser acompanhado por responsabilidade ambiental e respeito.  A avenida é de todos, as propriedades onde o lixo foi parar não. A represa não pode receber lixo só porque a iniciativa foi bonita.

O poder público falhou em não fazer a limpeza ou não definir com os organizadores quem deveria fazê-la logo após o evento, como é comum em feiras livres, praias e outros eventos em que a ação termina e o dia amanhece com áreas públicas limpas. O bloco deve e merece voltar em 2018. Com mudanças.

O caso rendeu polêmica, debates sobre uso da avenida (um elefante branco que beneficia uns poucos bairros de classe alta e dois loteamentos em caso que valeria uma investigação) e provocou críticas políticas.

Com isso entrou no jogo de ataques e defesa da administração. Um debate político que cresce, embora Daniel Alonso viva algum clima de lua de mel com a comunidade.

Essa lua de mel não tem prazo de validade, pode ser ampliada ou cancelada com o dia-a-dia e os desafios que se acumulam.

E nesse contexto separar o debate político do uso eleitoral e do jogo sujo é importante.

Até Daniel reconhece desgaste pela repercussão com a nomeações de comissionados, embora não seja esse o maior problema da cidade e da gestão.  A realização de alguns dos concursos que ele promete, pode resolver isso com eliminação dos cargos.

Há casos mais graves a serem acompanhados. Os bairros têm muitos problemas, de infa-estrutura, de lazer, de cultura. Superar a crise financeira, os entraves políticos e envolver o cidadão para que todos entendam e discutam os limites e prioridades é sempre o desafio maior. E há obstáculos.

A relação com a Câmara é um deles, a ponto de encontros no gabinete resultarem em casos de bate boca, vazamentos e quebra de confiança e condições de respeito. O nível dos debates e ataques mostra situações sem mínima preocupação com programas políticos ou compromissos com o cidadão. 

A gestão terá outra situação de riscos na relação com servidores. Não há sinais de que o Plano de Carreira vá sair nos 90 dias prometidos – uma quebra de promessa em situação polêmica – e vai começar a campanha salarial.

Daniel tem relação aceitável com a categoria por medidas simples: paga em dia, conversa, faz ajustes na educação, prepara concursos e dá sinais de controle de gastos na máquina como renegociação de contratos. Bacana, mas precisa fazer mais.

A gestão fez em seus primeiros dois meses mais que Vinícius Camarinha em seus últimos três? Com certeza. Inclusive com sucesso em desmontar estragos herdados pela quebradeira, falta de informações, documentos, senhas de computador.

Não será – e nunca pareceu ser – o Salvador da Pátria. Não será nem se quiser. A salvação esta na ação coletiva, na rejeição a políticos ruins, na fiscalização popular sobre a Câmara, na reação pública às medidas impopulares.

A cidade tem que ser diferente na administração e nas ruas. Da simples limpeza após um evento à permanente fiscalização e participação popular nas grandes decisões.