Daniel Alonso completa nesta sexta-feira 90 dias à frente da Prefeitura. A data em si não representa muito, mas 90 dias são tradicionalmente momentos de avaliação, algo que em empresas equivaleria a acompanhar cumprimento de metas.

No caso de Daniel, obrigatório fazer a leitura pelas influências dos últimos meses de Vinícius no cargo.  Daniel herdou um rombo milionário e uma cidade paralisada, com uma administração apática.

O lado ruim: pagamos todos a conta e sofremos todos com os problemas – inclusive amigos do ex-prefeito, muitos deles até deixados sem os salários de assessores, todos com lixo na porta de casa e tal.

O lado bom: qualquer iniciativa tornou-se grande. Pagou os salários, recolheu o lixo, renegociou dívidas, derrubou aluguéis, pagou contas. Faz fama e acertos com o que seria básico, seria o mínimo. Para quem não tinha nada, Daniel sobra na administração.

Os tais 90 dias são marcantes por uma promessa que não será cumprida: Daniel prometeu um plano de carreira em 90 dias. Não fará. Não há indicação de quando fará. E a cidade não tem dinheiro pra pagar essa conta.

O Plano é justo? Com certeza. É o ideal, mas em uma cidade que está a milhas e milhas disso, com desigualdades e injustiças salariais brutais. Daniel pode fazer mais com políticas de redução de injustiças programáveis, paulatinas, que com a promessa de um plano que deve demorar a aparecer.

Medidas como políticas claras de recomposição do vale alimentação com ganhos reais programados? Ou de salários? Ou de políticas de valorização – abonos, benefícios, incentivo a qualificação nas carreiras iniciais de menor exigência e salários são algumas medidas comuns, nada de inventar a roda, mas que melhoram as vidas de servidores. Respeito, espaço, negociação também pegam bem com uma categoria que representa milhares de famílias de forma direta. 

Aqui muitas reações vão lembrar os comissionados. Bem, o custo deles não cobre a conta do plano e sem os cargos a administração estaria ainda mais engessada. Aliás, os cargos formam outra promessa não cumprida. Daniel não se desfez deles e nem poderá se desfazer de todos.

E não parece que esse seja o maior pecado da administração. Ter alguns assessores é útil para a gestão e a cidade em conseqüência.  Há outras reflexões a fazer sobre os tais 90 dias – aliás, um artigo é superficial e pouco para falar disso, experimente por o debate no seu dia-a-dia – e seguem algumas sugestões de temas.

-A Câmara
Exceto pela anulação do plano de carreira, Daniel não enfrentou graves polêmicas na Câmara. Mas a relação com vereadores dá todos os sinais de que passa longe de ser baseada em programas ou ideias para a cidade.

Basta ver que a maior polêmica após o plano foi discussão sobre operações tapa buracos.

Como já foi dito, Daniel ganhou mas não levou a Câmara. Precisou conquistar votos no parlamento após a eleição para ter maioria. Como vai se dar essa relação no futuro é um tiro no escuro.

– Buracos
A cidade segue cheia deles. “Ah, mas a Codemar bateu recorde de tapa buracos”. Bem, a abertura de novos buracos também parece recorde e este não exatamente um caso de investimento.

Daniel, Vinícius, Temer, Lula, Dória, Padre Quevedo, qualquer um que ganhe a eleição será cobrado a passar quatro anos tapando buracos em ruas, é manutenção, algo como lavar louça em casa. A cozinha fica linda após o almoço e a pia esta cheia no jantar.

Mas se não fazem o básico por anos, quem faz vira rei.

– Contas públicas
A maior vitrine da gestão, embora esta tenha sido tímida em levar os casos de desmandos para apuração ou medidas de reparação de danos.

Para os 90 dias, as demonstrações de responsabilidades com gastos são um sinal excepcional de vontade e competência. Em médio prazo a tendência é cair no mesmo problema dos buracos e lixo: cuidar bem do dinheiro é obrigação básica do serviço.  A cidade precisa sonhar com mais.

– Alckmin
A prefeitura é, como tantas outras, refém do governo. Não entra em atritos porque tem demandas e necessidades. Mas o governo trata mal a cidade. A rodovia abandonada, a saúde, a Famema, a falta de equipes e estrutura na polícia são alguns sinais de um descaso contra o qual a administração não vai se manifestar.

– Brasília
E se a relação estadual é ruim, nem dá para comentar serviços federais. A prefeitura e a cidade sofrem com falta de investimentos, iniciativas e vontade. Basta pensar no engavetado projeto de duplicação da BR-153 ou no engessamento das verbas do SUS.

Fica pior se você pensar no abismo entre as discussões em Marília e os projetos de outras cidades. Rio Preto pressiona o presidente Temer por um contorno ferroviário e a doação de trilhos da cidade para transporte urbano, um projeto que em Marília soa como futurista, ficção científica.

Mas nada disso é culpa do prefeito.

Enfim, Daniel segue sua lua-de-mel com a cidade com medidas que podem ser traduzidas em poucas palavras: fazer o básico que não era feito.

Pode ser suficiente para ganhar o cidadão, a eleição de 2018 – nunca é demais repetir, todos seguem no palanque – e dar novos parâmetros ao debate político na cidade.

E são só 90 dias. Ele tem tempo para mostrar que pode fazer mais, fazer história e revolucionar os serviços públicos e a vida na cidade.

Como naquelas discussões de metas nas empresas citadas lá no início, que tal os moradores, associações, sindicatos e entidades se envolverem na discussão todos os dias e promoveram juntas avaliações em prazos de 90 dias, só para evitar sustos ao final de quatro anos?