O desfile de aniversário para comemorar 88 anos de emancipação política de Marília ganhou toques políticos especiais para acompanhar manifestação de entidades, escolas e empresas da cidade.
O primeiro partiu da administração, que botou para circular na avenida guinchos arrastando máquinas que a gestão do ex-prefeito Vinícius Camarinha (PSB) deixou sucateadas e sem condições de uso.
Foi a chave de ouro para o discurso oficial em que o prefeito Daniel Alonso lembrou as dívidas e problemas herdados, embora tenha sido comedido em criticar: atribui os problemas “uma gestão equivocada e a crise pela qual passa o nosso país”.
A crítica embutida na manifestação oficial foi logo substituída pela participação da comunidade.
Escolas com coreografias e até gritos de guerra, como a Etec Antonio Devisate, um destaque da região no Enem, muitos carros, motos em todos os estilos performances da banda marcial foram algumas das boas atrações do evento.
Empresas e até o grupo Terapeutas do Sorriso, que promovem humanização do ambiente hospitalar pra crianças internadas em Marília, levaram seu trabalho para a avenida. O clima ajudou e quem teve disposição para sair de casa conseguiu um bom espetáculo para a manhã do feriado.
E correu tudo muito bem até a chegada do protesto. Organizada e integrada ao projeto do desfile, a manifestação chegou a parar sua marcha logo no início: descobriu que havia entrado na avenida antes da banda marcial, a última atração oficial.
Formada principalmente por sindicalistas e movimentos sociais em protesto contra a reforma da previdência, a manifestação ganhou adesão do Sindicato dos Servidores e alguns trabalhadores que foram reclamar da falta de reajuste para os salários.
A marcha seguiu sem problemas até chegar perto do palanque. Enquanto acompanhavam a apresentação da banda, os sindicalistas foram contidos por um cordão de policiais militares.
O prefeito Daniel Alonso deixou o palanque antes da banda – e do desfile oficial – acabarem. Daniel saiu sem qualquer manifestação ao público, passo acelerado com a companhia da família, alguns assessores e a “proteção” de gente que no passado recente ajudou a reprimir as manifestações e arrancar cartazes de manifestantes.
A saída apressada deixou uma conta: “Cadê o prefeito?” cobraram os manifestantes assim que a PM deixou o protesto chegar ao palanque, quase vazio. “Os servidores atenderam para a coleta do lixo, a limpeza da cidade. Agora não conseguem ser atendidos”, atacou o carro de som levado pelos manifestantes.
O cerimonial do desfile anunciou os manifestantes, lembrou o protesto conta a reforma na previdência mas não citou o reajuste zero para salários. Informou que a negociação está aberta – a prefeitura deve apresentar nesta quarta-feira sua proposta final-.
O secretário da Cultura, André Gomes, responsável pela organização do desfile e ligado ao PC do B, um dos partidos da base de apoio ao prefeito na campanha, foi a única autoridade a ficar no palanque. Por ele, o cerimonial informou que o desfile seguia aberto enquanto durasse o protesto.