Foi há tempos atrás, quando o ponteiro do relógio do amor em nossas vidas dava uma das suas últimas viradas justamente em torno dos meus sentimentos e consequentemente, em torno da minha vida. A crise era realmente braba e me sugava todos os desejos e vontades de me levantar e prosseguir com os afazeres do dia-a-dia. Os copos e amigos do Bar de Zé já não mais me satisfaziam e era preciso que eu fizesse algo.
De repente, durante uma aula que não me lembro mais veio um dos convites mais inesperados que eu poderia receber naquela altura do campeonato e olha que já dava pequenos sinais de melhora. Uma amiga de sala que tinha colocado fim em seu noivado e também estava mal chega e diz: “ Você não quer ir comigo no sábado na igreja (uma daquelas grandes evangélicas), será a noite dos encontros, da busca pelo verdadeiro amor, ou algo assim? ”
Sim, aceitei, mesmo desconfiado do pastor e seus ajudantes (obreiros, ou como sejam seus nomes deles) e na hora e data marcada estava lá. Precavido, a avisei que sentaria perto da porta, pois, se algo acontecesse, poderia sair sem ser incomodado. E ei que o culto começa. Olho para e observo que são muito os solteiros, separados, desquitados, “tico-tico no fubá” e todos que buscavam um novo ou recuperar o seu velho amor.
O pastor que não é bobo e nem nada – aliás, são treinados para ministrar suas palavras – vai envolvendo a plateia com suas poderosas mensagens “você que perdeu o marido, o namorado, o companheiro…não se preocupe, eu irei trazê-lo de volta”. Claro, depois de quase uma hora de pregação muitos (as) já derramam lagrimas de saudades e eis que ele percebendo o tamanho da situação lança seu derradeiro golpe com uma pergunta. “Você quer seu amor de volta ou encontrar um novo? Basta colocar 150 reais na sacola que meus ajudantes estão passando.
Pronto, em meio de uma grande gargalhada que me levou a ser retirado da Igreja, pude ir embora, aproveitar melhor a vida, encontrar o amor que me acompanha até hoje bem longe dali e descobrir que para aqueles que frequentam aquela igreja, o amor tem preço e custa barato.