Marília

Usuários encaram filas de UBS na madrugada; Saúde pede agendamento

Pacientes aguardam na rua, durante madrugada, abertura de UBS para atendimento – Reprodução
Pacientes aguardam na rua, durante madrugada, abertura de UBS para atendimento – Reprodução

Uma postagem feita por uma usuária sobre crianças na fila durante a madrugada  para atendimento em posto de saúde do bairro Alto Cafezal, em Marília, detonou nas redes sociais uma crise por problema que é antigo, já provocou mudanças nos serviços mas esbarra em deficiências da saúde e falta de informação entre usuários.

A cantora Nikita Kirah, usuária do sistema público de saúde, mostrou fila com crianças, duas delas deitadas na calçada, enquanto aguardavam a abertura da unidade de saúde.

Nikita diz que já encontrou a situação em outras vezes. Desta vez levou uma almofada para esperar a abertura do posto e cedeu para as crianças usarem como travesseiros. “As crianças estavam bem, a mãe levou porque não tinha com quem deixar, mas elas estavam com sono e queriam dormir.”

A secretária municipal da Saúde, Kátia Ferraz, esteve nesta quarta-feira no posto onde foram feitas as imagens. Segundo a assessoria da Secretaria, ela foi atualizar informações sobre o atendimento e entender como o problema se manifesta. Kátia Ferraz também conversou com pacientes, que formam fila durante o dia: os postos sempre recebem volume de usuários maior que a oferta de serviços.

A própria Nikita, que fez a postagem, reconhece a dedicação dos funcionários envolvidos. “A equipe é ótima, o atendimento que o Dr André oferece compensa a falta de estrutura, mas a fila é um problema que se repete.”


Usuários formam fila na calçada durante madrugada à espera da abertura de unidade de saúde em Marília – Reprodução

As reações à postagem variaram da comoção a ataques políticos. Mas revelaram também algumas medidas já adotadas para melhorar o atendimento e falhas tanto nos serviços públicos quanto na postura de alguns usuários.

Valéria Castro, enfermeira apoiadora da Atenção Básica, diz que a fila é um problema histórico na rede. Como as unidades só abrem às 7h, a espera é feita nas calçadas.

O caso do Alto Cafezal está longe de ser isolado. Segundo a Secretaria da Saúde, ele se repete em outras unidades e é mais comum às segundas-feiras, quando os postos ganham movimento ampliado em função do final de semana sem atendimento.

A saúde admite problemas e faz inclusive um mapeamento sobre a falta de equipes, especialmente médicos, para discutir com o prefeito Daniel Alonso possibilidade de contratações.

A ampliação permitira ampliar e acelerar o atendimento, mas sempre no horário de serviço, das 7h às 17h. Não há previsão de qualquer medida para que as unidades abram mais cedo para servir de abrigo a quem chega na madrugada. A intenção da Saúde é reforçar mudança de comportamento e evitar que os usuários cheguem durante a noite.


Secretária da Saúde, Kátia Ferraz conversa com usuários na fila de atendimento da UBS Alto Cafezal – Divulgação

Segundo a pasta, boa parte dos atendimentos pode ser resolvida com espera muito menor: agendamento para alguns casos, disponível na maioria das unidades, e chegada de pacientes em horário mais próximo à abertura.

Isso porque chegar cedo não garante senha de atendimento. Os procedimentos seguem padrões de prioridade e vulnerabilidade: idosos, gestantes e crianças, doentes crônicos e alvo de procedimentos específicos.

Segundo a enfermeira Valéria Castro, muitos usuários desconhecem ou deixam de usar o sistema de agendamento. Os postos também não são indicados para famílias com casos de pacientes em urgência e emergência, que deveriam procurar pronto-atendimento ou serviços como resgate e Samu.

Mas a enfermeira admite ainda necessidade de ajustes na rede, como a rediscussão sobre o processo de trabalho nas unidades e reestruturação do acolhimento.

“A grande maioria das unidades agenda pacientes. A gente trabalha questão de prioridade. O acolhimento faz todo um estudo, uma observação de pacientes na fila. Mas não existe vantagem em chegar às 5h. Fazemos avaliação de todos os pacientes na fila e será atendido ou encaminhado por uma classificação de vulnerabilidade”, explica.


Kátia Ferraz com usuários e servidores da unidade de saúde onde foi registrada fila da madrugada – Divulgação