Há exatamente um ano policiais federais de Marília surpreenderam a cidade com a Operação Miragem, que lacrou as rádios Diário FM e Dirceu AM e denunciou esquema de fraudes no registro e gestão das empresas e do jornal Diário, que formavam a CMN (Central Marília Notícias). Foi resultado de uma investigação iniciada em 2014, exatamente 20 anos depois de as empresas terem mudado de dono pela primeira vez.
Após um ano, a Operação chegou agora à fase de defesa prévia dos acusados no processo que corre no Tribunal Regional Federal, em São Paulo. O ex-prefeito e deputado estadual Abelardo Camarinha e seu filho, também ex-prefeito na cidade Vinícius Camarinha, são os principais acusados. Nesta fase, os acusados apresentam a defesa prévia, primeira manifestação sobre a denúncia, e relação de testemunhas. Há outros oito denunciados.
Um deles, Marcel Certain, apontado como laranja do esquema para proteger verdadeiros donos da empresa, ignora convocação judicial e foi intimado por edital. Marcel assinou no final de 2011 a compra como um dos novos proprietários do grupo CMN.
Meses depois teria registrado em cartório um documento em que confessa ser laranja de Camarinha. A declaração não produziu grandes efeitos e a confissão antecipada, não transformada em delação na Operação Miragem, não impediu que ele fosse denunciado entre os dez acusados das fraudes.
O processo judicial provocado pela operação chegou ao seu décimo volume, já tem quase 3.000 páginas de documentos, incluindo a delação premiada da empresária Sandra Mara Norbiato, de Ribeirão Preto, que confessou ser laranja do deputado e seu filho.
Delação premiada de Sandra Norbiato incrimina Camarinha no escândalo
Sandra assinou com Marcel a compra das empresas mas adotou duas posturas diferente do “sócio”. Manteve seu nome preso ao jornal e rádios até o início da Operação Miragem e dois meses depois assinou a confissão em acordo de delação premiada.
Antonio Carlos dos Santos, ex-marido de Sandra, é outro acusado. Ele tem situação agravada por acusações de ameaça contra a ex-mulher, que já era testemunha no processo.
RASTRO DE CALOTES E PROCESSOS
O fechamento das rádios em agosto de 2016 e a segunda etapa – batizada de 5º Mandamento – realizada em 24 de janeiro deste ano, detonaram 22 anos de suspeitas de fraudes comerciais, legais e políticas envolvendo as empresas.
No rastro da apuração, o primeiro aniversário da operação que pode mudar a história política de Marília deixa um rastro de calotes e dezenas de funcionários lesados. Logo após o fechamento das rádios, um acordo com empregados previa pagamento de salários e outras verbas em cinco meses. Duas prestações foram pagas.
Após o fechamento do jornal, funcionários que ficaram sem salários, sem FGTS, sem horas extras, comissões ou outros pagamentos ficaram sem o dinheiro e sem informações. E sem documentos, lacrados com todo material e equipamentos da empresa por ordem judicial.
Funcionários protestam na porta da CMN
Um dos efeitos da operação é a proliferação de ações judiciais em outras instâncias além da Justiça Federal. Ações na justiça estadual cobram dívidas como aluguel do prédio onde as empresas funcionavam e cobranças.
A Justiça do trabalho tem pacote de processos em que os laranjas e os políticos acusados de serem donos reais das empresas são cobrados por salários, FGTS e outras verbas.
Apesar de independentes, todas estas ações estão emperradas pela apuração da Operação Miragem. O despejo do Diário do prédio com meses de aluguel atrasado aguarda manifestação do TRF3.
Ações trabalhistas que deveriam ter sua primeira audiência neste mês foram adiadas e a Justiça do Trabalho aguarda informações do Tribunal Federal sobre liberação de documentos.
Um processo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) julga pedido para cassar o mandato de Camarinha por abuso do poder financeiro com uso do jornal Diário na campanha de 2014.
Há ainda uma indefinição sobre novas operações ou medidas judiciais que possam ser provocadas a partir dos documentos e informações levantados pela Operação Miragem.
Mas um ano depois da operação e quase 23 anos depois d o empresário Juan Arquer Rubio – que foi dono da Arquer Holding com empresas como Iguatemy e Jetcolor – vender o jornal e as rádios em dezembro de 1994, as duas principais perguntas sobre o escândalo aguardam respostas: quem é o dono das empresas e quando ele vai pagar estas contas todas?