Marília

A falta que ela faz em tempos de "luz e trevas"

A caminho de fechar o oitavo mês de governo sob a gestão do empresário Daniel Alonso, a prefeitura acumula novidades, promessas, decepções e a falta de uma estrutura indispensável às melhores democracias: uma oposição equilibrada, com alternativas de gestão e fiscalização permanente.



Não é uma ausência absoluta. A ONG Matra, algumas discussões na Câmara e manifestações isoladas de servidores e moradores em temas pontuais têm apresentado boas ideias e reações.



Mas nenhuma delas apresenta ao cidadão uma opção política, de gestão e governança que discuta os problemas, avalie as medidas públicas e possa oferecer base para medidas importantes, como capacitar moradores para decisões e envolvimento com as causas públicas.



E se você chegou até aqui deve perguntar: e os grupos políticos do deputado estadual Abelardo Camarinha e de seu filho, o ex-prefeito Vinícius Camarinha, não contam?



Contam como oposição, com certeza, e têm feito um combate agressivo como poucas oposições no país fazem. Mas passam longe de fazer de forma equilibrada, de apresentar alternativas administrativas ou contribuições ao debate.



A agressividade dos ataques contra a administração dá a eles a posição de principal oposição política, mas também tira destes grupos credibilidade e, porque não dizer, o respeito de qualquer cidadão que busque um debate mais sério e aprofundado sobre o modelo de administração para a cidade.



Não basta dizer que Daniel está destruindo a cidade ou desmontando serviços públicos sem uma análise de contrapartidas, de responsabilidade pelo rombo financeiro acumulado, por anos de dívidas com Ipremm e fornecedores, por contratos suspeitos em diferentes áreas, por fortes indícios de desmantelamento do Daem, Codemar e Emdurb entre outros problemas.



Aproveitar os problemas que a cidade enfrenta para dizer que Daniel desmonta o que ia muito bem não cola em nenhuma discussão. A gestão de servidores não ia bem, gestão financeira não ia bem, serviços de saúde não iam bem, limpeza não ia bem, conservação não ia bem e o contrato de transporte que permite as recentes mudanças é também uma herança de gestões passadas.



Com a experiência, a liderança e contatos que têm, Camarinha e Vinícius poderiam oferecer muito mais à cidade, sem falar nas questões que seus mandatos deixam a ser discutidas ou explicadas.



Daniel tem promessas de campanha que não cumpriu – como a questão das nomeações – e promessas feitas depois de eleito que também não cumpriu – como a de fazer em 90 dias o novo Plano de Carreira ou de uma “gestão eficiente”, que foi até decoração de parede enquanto ele anunciava seus futuros secretários.



As nomeações, a perda de energia com  discussões como transformar o Daem em secretaria, a indefinição sobre uma política de longo prazo para os servidores, a demora em promover a transparência total dos gastos, os cinco meses ignorando as multas da Cetesb que quase deixaram a cidade sem aterro sanitário e provocaram a interdição do despejo de entulho – que na emergência virou problema com mais prejuízos e multas – são alguns dos exemplos em que a administração perdeu o foco da gestão eficiente em alguns pontos.



O fim das farmácias nos postos, que centraliza entrega de remédios e cria transtornos a pacientes por falta de farmacêuticos nas unidades, é um problema real que foi transformado em festa política com a inauguração de  farmácias municipais apresentadas como grandes inovações, mas que são na verdade boas estruturas para serviços que ficaram piores.



Daniel também não contribuiu muito com o debate quando decidiu tratar seu governo como a luz e a oposição absoluta dos adversários como as trevas. É um discurso emocional e apelativo que não diz nada sobre eficiência de gestão, modelo de governança, prioridades políticas ou participação popular. Um discurso tão antigo quanto o modelo de críticas a tudo e todos que a oposição usa.



No meio destes dois discursos há espaço para outra linha de pensamento, que apresente projetos, que apresente alternativas aos investimentos públicos iniciados e que possa em cada um deles debater alternativas para que os gastos sejam mais equilibrados.



Havia bons exemplos de pessoas interessadas neste modelo de oposições na frente que se formou para lançar Daniel candidato em 2016. Gente que ganhou a eleição com ele mas não levou e não chegou aos espaços de governo.



Há bons profissionais para estas discussões em partidos, nas universidades, movimentos comunitários, associações, sindicatos e mesmo nos serviços públicos. É deles que a cidade precisa hoje e são eles que podem melhorar todo o debate e a partir dele melhorar as decisões.