Marília

Águas de Marília quer renovar contrato com Daem e defende cobrança de atrasados

Águas de Marília quer renovar contrato com Daem e defende cobrança de atrasados

A empresa Águas de Marília, que desde 1997 é responsável pelo abastecimento de bairros na zona norte da cidade com a perfuração e gestão de um poço profundo, quer renovar o contrato de concessão para exploração dos serviços e defende o modelo de serviço, que desde o começo do ano enfrenta muitas críticas.

O contrato vence em novembro deste ano e o ex-diretor do Daem José Carlos de Souza Bastos, o Beca, anunciou que não havia interesse na renovação, criticou o modelo de pagamentos para a empresa e disse que o contrato é prejudicial ao departamento. A direção da empresa discorda.

Segundo o empresário Marco Botter, acionista da Águas de Marília, “o contrato não é lesivo ao Daem. Muito pelo contrário, é extremamente vantajoso para o departamento e, consequentemente, para a população da cidade.”

Botter respondeu a uma série de perguntas encaminhada pelo Giro Marília à assessoria de comunicação da empresa, mas evitou falar em valores já arrecadados pela empresa. Também não indicou qual seria o valor de uma dívida que a Águas de Marília cobra do departamento desde março do ano passado. Quando apresentou a cobrança, falava-se em R$ 16 milhões. No início deste ano, a nova diretoria do Daem divulgou ter contestado cobrança de R$ 12 milhões. 

Confira abaixo as respostas e análise da Águas de Marília para os principais pontos polêmicos.

Giro Marília – O Daem já manifestou que não há interesse em renovar a concessão e o contrato de prestação de serviços com a Águas de Marília. A empresa ainda tem interesse em manter o contrato?

Marco Botter: A empresa Águas de Marília tem interesse em manter o contrato, pois esse é o foco da companhia, operar bem um sistema produtor de água de forma a possibilitar que nosso trabalho se some ao do Daem, de maneira complementar e em suporte àquilo que o Daem necessita produzir e distribuir à população.

Giro Marília – Um dos pontos atacados e apontados pelo Daem como prejudiciais é o modelo de contrato, com a previsão de pagamento mínimo. A Águas de Marília admitira mudar esse padrão do contrato?

Marco Botter: O modelo do contrato se baseia na nossa obrigação de garantir uma capacidade mínima de fornecimento. É nossa obrigação contratual jamais comprometer a confiabilidade do sistema, o que fizemos ao longo desses 20 anos. Há uma lógica nessa modalidade, que é amortizar os investimentos que fizemos e sustentar os custos operacionais. Por isso é que não se justifica alterar o modelo, porque fornecer uma quantidade mínima é a linha mestra do contrato.

Giro Marília – O Daem aponta que paga na faixa de R$ 2,3 por m³ de água captada pela empresa e cobra da população R$ 1,8 por m³. A empresa confirma estes números? O contrato é lesivo ao Daem?

Marco Botter: Houve uma série de distorções em informações veiculadas em Marília a respeito dessa questão. A cobrança da água é feita por faixa de consumo mensal. Quanto maior o consumo mensal do usuário, maior o valor cobrado por metro cúbico.

Fora da faixa social (consumo de 0 m3/mês a 5 m3/mês) as tarifas residenciais indicadas no Site do DAEM (www.site.daem.com.br/portal/taxas-de-consumo) mostram valores que vão de R$ 1,70/m3 até R$ 8,52/m3.

Para tarifas comerciais os valores variam de R$ 5,32/m3 até R$ 9,92/m3. Portanto, a tarifa de R$ 1,8/m3 não é o valor que o Daem cobra da população. É apenas a tarifa para uma das faixas de consumo da tabela de cobrança do departamento.

Não somos um sistema isolado, fazemos parte de todo o sistema de abastecimento. O valor pago para a Águas de Marília é hoje de R$ 2,34/m3.

Para se fazer uma comparação correta, é preciso que seja checada a tarifa média cobrada pelo Daem. Portanto, a comparação da tarifa social com a nossa não é correta.  O contrato não é lesivo ao Daem. Muito pelo contrário, é extremamente vantajoso para o departamento e, consequentemente, para a população da cidade.

Giro Marília – A Águas de Marília explora o serviço de abastecimento como uma atividade empresarial que de forma lógica prevê lucro e remuneração dos investimentos. De que forma esse modelo interessa para o Daem ou para a cidade? Não deixa o fornecimento de água mais caro que o necessário?

Marco Botter: O lucro é parte fundamental da atividade empresarial. E, para obtê-lo, é necessário correr riscos e fazer investimentos. Além disso, ter eficiência na gestão dos empreendimentos. Empresas públicas ou mistas como Banco do Brasil, CEF, Petrobras ou Sabesp não buscam lucros?

No nosso contrato, o investimento prévio foi feito sob nosso risco. O poço poderia não ter dado certo, e todo prejuízo seria exclusivamente nosso.

Essa parceria do empresário com o poder público, como no saneamento, traz para a administração pública muitas vantagens. Uma das principais delas é que libera recursos do poder público para investimentos em áreas de sua exclusiva vocação, como segurança, saúde e educação. Além disso, mobiliza o patrimônio particular, que é colocado em risco para o aperfeiçoamento dos serviços públicos.  

Não é sem razão que uma das saídas para a crise brasileira é a ampliação das Parcerias Público Privadas (PPPs), que correspondem exatamente ao modelo do contrato do Daem com a Águas de Marília. É importante observar que todos esses contratos obrigam o concessionário a manter excelência na prestação dos serviços. Isso acontece porque o Poder Concedente (Daem), a qualquer momento, pode assumir os ativos e passar a operá-los, caso alguma obrigação contratual não seja devidamente cumprida.

Hoje, as concessões são uma tendência, independentemente de qualquer escopo ideológico, em razão de seus resultados. Por exemplo, recentemente, o governo de São Paulo privatizou uma das principais rodovias da região de Marília. A população poderá observar os ganhos dessa concessão da estrada.

Desse modo, é fácil compreender a razão pela qual um contrato deste tipo interessa muito à cidade e, portanto, ao Daem.

Quando à modicidade da prestação dos serviços, basta comparar os números já discutidos em pergunta anterior. Não há encarecimento no fornecimento da água.

Giro Marília – O Daem deve dinheiro para a empresa? Quanto e qual a origem da dívida?

Marco Botter: Em um contrato de concessão na modalidade PPP, há obrigações a serem cumpridas pelas duas partes. Ao longo desses 20 anos em que Águas de Marília prestou serviços, houve reiterados atrasos muito significativos nos pagamentos devidos à concessionária. Também houve aumento de impostos cobrados na atividade.

O contrato prevê que tanto atrasos nas faturas como mudanças na tributação devem ser compensados. Essas duas variáveis, além de outras que estão em discussão, acarretaram um grande desequilíbrio econômico financeiro no contrato, que, agora, precisa ser compensado. A garantia do equilíbrio econômico financeiro é um princípio básico de qualquer concessão.

Giro Marília – A direção do Daem chegou a divulgar que a Águas de Marília tentou receber o dobro da dívida reconhecida pelo Departamento. Afinal, qual valor é o correto?

Marco Botter: A Águas de Marília jamais pretendeu receber nada mais do que o justo para recomposição do equilíbrio econômico financeiro do contrato. Tudo isso está demonstrado em processo administrativo que foi encaminhado ao Daem no final de 2016 e que, até o momento, não teve um desfecho, por falta de decisão embasada do departamento. Todas as negociações são feitas às claras e esperamos um desfecho favorável a todas as partes.

Giro Marília – A mudança na diretoria do Daem alterou as relações com a empresa?

Marco Botter: Não. A mudança da Diretoria do Daem não alterou as relações da empresa com seu cliente. Nossa relação é institucional.

Giro Marília – Os novos dirigentes do Daem – Marcelo de Macedo e João Augusto O. Filho – prestaram serviços para a Águas de Marília? Em caso de resposta positiva, em que período?

Marco Botter: O Sr. Marcelo de Macedo nunca prestou serviços para a Águas de Marília. Tivemos contrato com o sr. João Augusto de 2002 a agosto de 2017.

Em momento algum, de todo o período de prestação de serviços da Hidroassessoria para Águas de Maríla, houve pessoas ligadas, direta ou indiretamente, às empresas e que também tivessem qualquer vínculo com o Daem.

Giro Marília – Quanto a Águas de Marília investiu e quanto arrecadou na vigência do contrato?

Marco Botter: O valor necessário dos investimentos feitos por Águas de Marília para implantação do sistema, conforme exigência contratual, representariam cerca de R$ 15 milhões, talvez um pouco mais que isso. Além desse valor inicial, muitos outros investimentos não previstos foram necessários.

Giro Marília – O contrato estabelece previsão de margem de lucro com limites de ganhos para o serviço? 

Marco Botter: Não. O Contrato não estabelece margem de lucros ou ganhos para o serviço. Venceu a licitação quem apresentou a menor tarifa de água, mas há um equilíbrio econômico financeiro a ser mantido, como em todo contrato de concessão.

Giro Marília – Que tipo de riscos o contrato e a prestação de serviços oferecem para a empresa?

Marco Botter: A população de Marília se recorda de que, na época, na década de 1990, houve uma série de problemas na perfuração de poços profundos não só em Marília como em muitas outras cidades. Para se ter ideia, foram usados por nós equipamentos desenvolvidos para a perfuração de poços de petróleo, de alto custo. A exploração do aquífero Guarani era e ainda é de alto risco. Havia ainda a possibilidade de a água retirada não servir para o consumo humano. Esses riscos foram assumidos por nós, poderíamos enfrentar prejuízos financeiros gigantescos.  Toda a operação de manutenção de um poço desse porte e mesmo a substituição de bombas exige sondas perfuratrizes ou guindastes com capacidade de até 70 toneladas. E temos de monitorar o poço 24 horas para dia, testar se a água atende às normas, para a segurança da população de Marília.

Para se ter uma ideia, em razão do alto risco, nem mesmo seguradoras oferecem apólices convencionais para esse tipo de empreendimento.

Giro Marília – Qual valor aproximado do patrimônio criado pela Águas de Marília que poderia ser transferido ao Daem com o fim do contrato?

Marco Botter: Somente o poço e equipamentos auxiliares custariam cerca de R$ 15 milhões, mas sempre lembrando que hoje temos um poço que funciona perfeitamente, com água de qualidade. Ainda temos o custo de uma adutora de 1.000 metros e 300 mm de diâmetro, que seria de aproximadamente R$ 1,5 milhão.

Por fim, agradecemos a oportunidade dada pelo site de esclarecermos dúvidas e afastarmos distorções relacionadas ao contrato. E continuamos à disposição de todos para tratar de qualquer questão.