Marília

Radares, uma batalha e a guerra

Radares, uma batalha e a guerra

Enquanto os vereadores gastavam tempo, energia, cafés, hora de funcionários e papel em uma sessão que só serviu para dar ao prefeito Daniel Alonso mais tempo para outras duas propostas polêmicas mal tratadas e nada discutidas com a comunidade, estava tudo armado na administração para testar radares em Marília como se houvesse a certeza do que ia acontecer.

Alguém terminou a história com a sensação de que ganhou o dia. Os radares estão em teste, embora haja uma promessa de que a licitação não vai até o final até que a Câmara decida como fica a lei. Deve ter havido uma reunião com boas risadas em algum lugar. Poucos momentos poderiam ser mais idiotas no quadro político e administrativo que a cidade vive.

Até a oposição falou hoje o que se repete há quase um ano. A administração Daniel Alonso não erra no conteúdo de boa parte das decisões mais controversas, mas enfia os pés pelas mãos na hora de fazer. Erra o formato.

A começar pelo mais absoluto desdém pela opinião coletiva. É uma administração que acostumou a adotar medidas traumáticas como se fossem doces surpresas. Desta vez a ponto de não dar a menor bola nem para a divulgação – obrigatória – de atos administrativos como medidas de uma licitação.

Nos primeiros casos tudo passou como a sensação de que a prefeitura tentou evitar boicotes e desgastes. Bem, eles vieram de toda forma com a agravante de a comunidade ser excluída dos debates.

Os vídeos felizes e as celebrações nas redes sociais não pararam. As propostas polêmicas nunca chegaram até lá.

O caso dos radares virou uma queda de braços com a Câmara com direito à sensação de que tudo estava planejado para seguir como se não houvesse várias questões técnicas, jurídicas e políticas a serem esclarecidas, como se as reações dos vereadores não façam a menor diferença, um péssimo modelo de ação.

Pior. Serviu para render todo tipo de ataque de quem deveria ser melhor tratado como amigo e de quem só aproveita as brechas para os ataques dos quais Daniel reclama tanto. Valeu a pena?

Por que a cidade precisa de todos os radares e em todos os pontos onde a Emdurb quer contratar?

Cadê o projeto de educação no trânsito e de estatísticas para acompanhar tudo isso?

Cadê o planejamento de medidas que serão tomadas para acompanhar os radares para que a velocidade diminua mesmo nos pontos aonde não existam riscos de multas?

A política do “somos a luz, quem estiver no caminho é trevas” já criou desgaste com entidades tradicionais, com forças políticas que poderiam ajudar na renovação, com meios de comunicação, com o Ministério Público e o Judiciário e abrem um racha nas relações com a Câmara.

Isso tudo sem falar nas situações que ameaçam muito mais que o mandato e podem colar como suspeitas na administração. E olhe aí outra surpresa: tudo isso vinculado a empresas, contratos e projetos herdados da gestão anterior, que é tão repetidamente tratada como uma manifestação do mal.

Bem, ou ela não foi tão ruim assim ou tem algo ruim entre os santos salvadores da pátria.

Manter ou não a licitação, instalar ou não os radares sem os estudos técnicos, encher ou não a cidade de multas nem são os focos principais. Essa é uma batalha do processo político.

A guerra em que Daniel deveria ser o comandante é para mudar o jeito de fazer política, mudar o relacionamento com a comunidade, estabelecer novos espaços para o cidadão.

E nada disso aparece neste caso, como não apareceu na discussão do aumento de IPTU, do aumento isolado de salários, na crise com os servidores, na relação com as empresas de transporte.

Ser mais do mesmo, com algumas boas medidas como bônus, não cumpre nenhum objetivo maior.

Já circulam informações de que as disputas com a Câmara embutem a briga pela indicação de quem será candidato – ou candidata – a deputado estadual pelo bloco da administração. Não poderia haver contaminação pior.

Chegar às vésperas de 2018 com os olhos nos mandatos de 2019  arrastando problemas dos anos anteriores não é exatamente uma boa construção, especialmente para quem sempre disse “entender um pouco de obras”.

Um 2017 melhor cuidado seria o melhor presente para quem está de olho no futuro. Em muitos casos deu certo. Em muitas polêmicas foi horrível. Para quem quer enxergar tão longe no futuro, não parece bom todas as chances que dão ao pior do passado.