Dezenas de trabalhadores dos setores administrativo, comercial e redação do extinto jornal Diário de Marília acordaram nesta quarta-feira com duas lembranças ruins: aniversário de um ano de fechamento da empresa pela Polícia Federal e o longo período sem qualquer atendimento para ações trabalhistas, que se arrastam na Justiça na cidade.
O fechamento do jornal deixou trabalhadores com situações de calote em salários, direitos previdenciários, comissões e outros benefícios. Pelo menos 60 ações trabalhistas foram ajuizadas nos meses seguintes ao fechamento e nenhuma teve andamento adequado.
Algumas poucas audiências de início da tramitação dos processos chegaram a ser marcadas e abertas, mas acabaram encerradas e adiadas por pedidos da defesa da empresa, que alega falta de documentos.
As audiências foram todas jogadas para este ano e devem ser retomadas a partir de março. A simples manifestação da defesa é mais uma das situações bizarras dos processos. Nenhum dos acusados cobrados na Justiça assume ser dono da empresa. O Diário não tem qualquer receita: quem contratou, pagou e é representado na defesa da empresa?
O fechamento do Diário aconteceu na segunda fase da Operação Miragem, que em agosto de 2016 já havia fechado as rádios Diário FM e Dirceu AM. Os três casos envolvem investigação de fraudes e crimes comuns que resultaram em uma ação judicial com dez acusados no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da Terceira Região), em São Paulo.
As investigações apontam o deputado estadual Abelardo Camarinha e seu filho, o ex-prefeito Vinícius Camarinha, como donos ocultos das rádios e jornal. Os dois são acusados de controlar as empresas com atuação de laranjas.
A acusação chegou às ações trabalhistas. Os funcionários do jornal e rádios passaram a apontar documentos e situações que seriam as provas de que os políticos e um assessor de Camarinha, Carlos Umberto Garrossino, dirigiam as empresas. Camarinha e Vinícius são cobrados nas ações trabalhistas.
O fechamento do jornal deixou ainda outras ações, como cobrança de aluguéis e pedido de despejo e ações comuns de cobrança e execução, paradas. Um ano depois de desaparecer, o Diário de Marília ainda mexe com a vida da cidade.