Um relatório da Secretaria Municipal de Educação divulgado nesta segunda-feira indica que a pasta descartou sete toneladas de carne comprada para merenda escolar em Marília aponta possível oscilação de energia como causa para a perda. A divulgação acompanha tramitação de pedido para instalação de uma CPI (COmissão Parlamentar de Inquérito) sobre o caso na Câmara.
O relatório, produzido pelo secretário da Educação, Helter Rogério Bochi, descarta existência de carne vencida nos depósitos e confirma que Cozinha Piloto usava câmara adaptada para armazenar alimentos.
Em nota divulgada após a divulgação do caso, no dia 26 de janeiro, o ex-secretário da Educação, Beto Cavallari Filho, apontou que pedidos para compra de uma câmara foram ignorados pela prefeitura.
Segundo o relatório do novo secretário, uma equipe da Vigilância Sanitária acompanhou o trabalho e constatou que, ”devido às condições de armazenamento e manipulação (e não a questão de prazo de validade), toda aquela carne bovina acondicionada na câmara de resfriamento não poderia ser utilizada pra merenda escolar”.
“Foram em média sete toneladas de carne que foram levadas em duas viagens, sempre com acompanhamento da Vigilância Sanitária. Após isso, sob a orientação da Vigilância, foi feita a higienização tanto do caminhão como da câmara de resfriamento”, diz o relatório.
A divulgação do documento acontece poucos dias depois de um grupo de vereadores assinar um requerimento com proposta de implantação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso.
O requerimento da CPI é assinado pelos vereadores Luiz Eduardo Nardi, Danilo da Saúde, Maurício Roberto, Evandro Galette e Albuquerque. Não há previsão sobre data para votação do requerimento. A Câmara retomar suas sessões ordinárias nesta segunda.
Veja abaixo a íntegra do relatório divulgado pela prefeitura
Secretário da Educação, Helter Bocchi, em conversa com atendentes de escola sobre cuidados com merenda – Divulgação
“Assumi a pasta da Educação no dia 22 de janeiro e criei um plano de trabalho para a semana. Segunda (22) e terça (23) tomei ciência das questões administrativas, fui conhecer a equipe e ver como funcionava os setores internos. Na quarta-feira (24) havia programado ir à Cozinha Piloto para avaliar a situação de todos os produtos utilizados na merenda escolar. Na quinta (25) iria até o almoxarifado e na sexta (26) visitaria as obras das escolas que estão em andamento, mas ainda não consegui sair da Cozinha Piloto.
Na quarta-feira, por volta das 8h, fui direto à Divisão de Alimentação Escolar, onde fui verificar os estocáveis que estavam descritos no relatório para saber o que havia no local. Foi quando os funcionários me falaram que estavam percebendo um odor estranho na câmara fria, em que estava acondicionada a carne bovina, especificamente músculo. Pedi para que os açougueiros abrissem a câmara e percebi que o odor não era agradável de parte da carne. Entrei na câmara fria com o auxílio dos funcionários da Cozinha Piloto, observei os pacotes de carne e posso atestar, inclusive com registros fotográficos, que não havia nenhum pacote com a data de validade vencida. Todo o lote datado dos pacotes de músculo bovino em pedaço estava dentro da data de vencimento. E parte da carne percebi que estava acondicionada em outra embalagem que não era esta do músculo em pedaços, em que os funcionários me disseram que no ano anterior, quando esta carne chegou, foram orientados a descongelar, moer e congelar novamente, o que acredito, mesmo sendo leigo no assunto, ser uma prática condenável dentro da nutrição.
Os funcionários me informaram ainda que aquela câmara não era de congelamento, mas sim de resfriamento e que foi adaptada pra que congelasse esta carne. E suspeita-se que esta câmara tenha tido uma oscilação na temperatura, o que ocasionou o descongelamento desta carne, provocando aquele odor nada agradável.
Como não sou técnico de saúde e não sabia até que ponto isso poderia prejudicar a qualidade desse produto que seria consumido por crianças a partir do dia 5 de fevereiro, compartilhei a questão com o prefeito Daniel Alonso e ele determinou que a melhor estratégia seria a avaliação de um técnico responsável de um departamento que pudesse responder por isso pra que a gente preservasse principalmente a saúde e o bem-estar das nossas crianças, independente da repercussão que o fato tivesse.
Tomamos a decisão de chamar a Vigilância Sanitária pra avaliar como estava esta carne armazenada na câmara de resfriamento. A Vigilância foi até lá, fez os registros fotográficos, as análises técnicas e os procedimentos específicos, constatando que, devido às condições de armazenamento e manipulação (e não a questão de prazo de validade), toda aquela carne bovina acondicionada na câmara de resfriamento não poderia ser utilizada pra merenda escolar.
Então, recebemos as orientações de como iríamos proceder para o descarte dessa carne. Por orientação da Secretaria da Saúde, entramos em contato com uma empresa, onde aceitam este tipo de descarte.
O descarte foi acompanhado pela Vigilância Sanitária, onde tivemos que pegar pacote por pacote de carne através dos nossos servidores e ajuda dos reeducandos, abri-los e colocar a carne em sacos plásticos, levar até o caminhão e transportar até essa empresa. Foram em média sete toneladas de carne que foram levadas em duas viagens, sempre com acompanhamento da Vigilância Sanitária. Após isso, sob a orientação da Vigilância, foi feita a higienização tanto do caminhão como da câmara de resfriamento.
Alguns meios de comunicação divulgaram algumas fotos que supostamente seriam da Divisão de Alimentação Escolar, especificamente da câmara de resfriamento, que não são reais, inclusive mostrando pacotes de carnes vencidas e que não são compradas pela Cozinha Piloto, além de algumas caixas de carnes acondicionadas em caixas de papelão. Portanto, estas imagens não refletem o que aconteceu, sendo que inclusive os vereadores Maurício Roberto e José Luiz foram até a Cozinha Piloto e constataram que aquelas imagens não conferiam com a real imagem da câmara de resfriamento.
A partir disso, a nossa preocupação foi regularizar a situação e, com as verbas específicas, comprar a carne para a merenda escolar que será servida a partir desta segunda-feira, dia 5 de fevereiro. Conseguimos finalizar o processo, com a merenda tendo a carne normalmente, atendendo os cardápios das escolas municipais e parte das escolas estaduais, através do convênio com a Prefeitura. A carne foi entregue direto nas escolas.
Agora já pensamos em algumas ações, visando uma melhor manipulação desse material e orientação dos funcionários a respeito de como proceder com a manipulação de carne. Por isso na semana passada já realizamos na quinta-feira (1) uma orientação com as nutricionistas da nossa rede e com a equipe da Divisão de Alimentação Escolar para as atendentes de escola da rede estadual de como receber esta carne, o que observar e algumas questões gerais sobre manipulação de alimentos na preparação da merenda. E na sexta-feira (2), no Espaço Cultural Ezequiel Bambini, cerca de 200 atendentes das escolas municipais receberam também as orientações gerais para que a gente garanta mais qualidade no manuseio e preparação da merenda escolar.
Na semana de planejamento, enquanto que os professores estiverem passando pela formação pedagógica, já estamos pensando em montar um curso mais profundo pra que a gente possa formar esses profissionais que cuidam de uma parte tão importante, que é a preparação da merenda escolar. Tudo isto que aconteceu foi juntado, encaminhado à Prefeitura para que os fatos sejam apurados administrativamente no setor jurídico e para que se resolva a situação da melhor forma possível, além de constatar o que realmente aconteceu para que possamos orientar e tomar as medidas legais em relação a esse fato. A preocupação desde o início foi agir com transparência, com lisura dos fatos e mostrando a todos o que aconteceu. Inclusive estive na Câmara Municipal, na sala da presidência, com a presença de vários vereadores, mostrando a eles as fotos e expliquei os fatos pra que todos tivessem cientes que as providências foram tomadas sob à luz da legislação, pensando principalmente no bem-estar das crianças da rede municipal de ensino e também da rede estadual.”