O árduo caminho para a sonhada aprovação em concurso

Retomando a nossa conversa, nas nossas próximas colunas traremos a lição de vida da Juíza de Direito Rafaela D´Assumpção Cardoso Glioche, aprovada no 185º Concurso de Ingresso na Magistratura bandeirante, o qual contou com 11.641 inscrições. 421 pessoas foram aprovadas na prova objetiva e habilitadas para a segunda fase, de provas escritas (discursiva e prática de sentença).

A terceira etapa envolveu sindicância da vida pregressa do candidato, investigação social e avaliação física e psicológica.  A quarta etapa compreendeu as provas orais, com avaliação de 107 candidatos. Apenas 81 candidatos foram aprovados. A quinta e última fase tratou da avaliação de títulos para classificação final. Ao final, dois aprovados desistiram e um pediu adiamento da posse.

Àqueles que tem no concurso público um objetivo de vida, torna-se obrigatório ler atentamente as lições de perseverança, confiança e humildade da autora no seu caminho para a aprovação no concurso da magistratura. As colunas constarão o teor das mensagens tal qual publicadas no Instagram da nossa amiga Rafaela Glioche (@ra_glioche). 

Por fim, o poeta alemão Johann von Goethe já afirmava: “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor”.

Boa leitura e reflexão:

Resolvi contar, em partes, minha trajetória de estudos até a sonhada aprovação. Eu me formei em 2010. Era estagiária do MP. Aqui em SP o estágio no MP é por concurso. Fiz a OAB, passei, mas não me inscrevi, justamente porque era concursada. Sabia que iria abrir o concurso para AnaIista do MP. Era meu sonho. Seria um cargo em que eu poderia fazer “o que já sabia”, mas com vinculo estável com o Estado. Então comecei a estudar. Montei um plano de estudos de 12h por dia (sem essa coisa de “horas líquidas”). Sentava e cumpria minha meta. 4 blocos de 3 horas. Mas não podia seguir esse plano todos os dias, porque tinha que trabalhar.

Nos dias que trabalhava, estudava “apenas” umas 5h por dia. Foram uns 3 meses assim (mas eu já vinha estudando por causa da OAB). Eram 3 fases. Consegui passar dentro do número de vagas. Foi uma felicidade sem tamanho! Finalmente faria minha atividade jurídica e poderia sonhar com outros cargos. Só que depois que passei, dei uma “estacionada”.

De modo infantil pensei que três anos era muito tempo e eu já tinha provado para mim mesma que conseguia passar. Passei para estagiária, passei na OAB, passei para Analista. Ledo engano. Quando passei para Analista era início de 2011. Fiquei Iá. Sendo analista. Sem pegar em um livro. Achando que tudo seria “fácil”. Passei 2011 todo sem estudar. Aí em 2012 abriu um concurso para o MP (que para mim seria uma transição natural, afinal, fui estagiária e era funcionária do MP. Ser promotora era algo “natural”). Resolvi voltar aos estudos. Fiz um plano. Estudaria 8h por dia… coitada.

Como é que se trabalha 8h, se dorme 8h e se estuda 8h? Pergunto para aquela Rafaela: vc é imbecil? Esqueceu que 8, 8, 8 dá 24h? Que horas vc toma banho, ou se desloca para o trabalho, ou vai ao banco ou ao mercado? Plano de “juninha”, né? Obvio que não deu certo. A ideia, na verdade, consistia em estudar TODOS os dias. Mudei o plano para 5h por dia. Mesmo trabalhando (eu era analista do MP) eu tinha a obrigação, como se segundo emprego fosse, de estudar todos os dias. #concurso #concurseiro #estudos #estudar #estudantededireito #juizdedireito #promotor #delegado #concuseira #concurseiro #estudarsempre #glioche 

Parte 2: fiz do estudo um segundo emprego. “Batia cartão mentalmente”. Comecei a estudar sério. Todos os dias úteis. 5h por dia. Claro que havia dias que não conseguia cumprir a meta. Tem dia que você está com dor de cabeça, com cólica ou teve algum problema. Mas a regra era estudar. E se não desse para fazer as 5h, se desse para fazer pelo menos 1h, eu fazia.

Eu ainda não tinha atividade jurídica, mas meu objetivo era conseguir ir para a segunda fase do concurso (Promotor MP/SP), que foi o primeiro a abrir depois que tomei posse como analista. Eu fazia o horário das 09h às 17h no trabalho. Aí chegava em casa, umas 17h e pouco e ia estudar. Parava umas 20h e pouco, jantava e voltava até dar minhas 5h. Tentei, mas não me adaptei com o método de ler uma matéria por dia. Para mim só funcionava ler uma matéria por vez. Então eu lia tudo. Do comer ao fim. Aí começava outra matéria. Cada um tem um jeito. Eu estava animada. Confiante.

Fui fazer a 1a fase.

Achei a prova justa. Dei meu melhor. Fiquei na espera… Saiu o resultado. Eu não passei… a note de corte foi 80. Eu fiz 75. Tentei ficar feliz. Aprender com meus erros. Vi que as matérias que negligenciei, pq achava que já sabia, foram as que me derrubaram. Foi decepcionante, mas não muito, porque não tinha atividade jurídica. Balancei a poeira. Eu ia passar no próximo. Mas confesso que ter que trabalhar me desanimava.

Achava que não estava competindo de verdade com quem “só” estudava (estudar nunca é fácil). Tinha que estudar cansada, depois de um dia inteiro de trabalho e isso não me fazia render tão bem. Mudei meu horário no trabalho. Passei a trabalhar das 11h às 19h. Ai eu estudava metade da meta (2h30) antes de ir para o trabalho e metade depois. Sentia que com essa divisão eu me cansava menos. Assim, depois de trabalhar um die inteiro eu “sé” tinha que estudar 2h30 e não mais 5h. Ah, e inclui os sábados. Se eu conseguia estudar 5h trabalhando, no sábado eu tinha que estudar mais, né? (Sempre fui uma pequena ditadora de mim mesma). Então aos sábados eu estudava 8h. Espaçadas, com várias pausas. #concurso #concurseiro #estudar #glioche #juiz #promotor #rotina”

(continuação na próxima coluna)

“Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista” 
Cora Coralina

 

 

Feliz Dia Internacional das Mulheres – 8 de março