Marília

A cidade é maior e melhor que os dois

A cidade é maior e melhor que os dois

O prefeito Daniel Alonso usou a maior parte do seu pronunciamento de aniversário da cidade, em um evento oficial, para uma série de ataques ao deputado Abelardo Camarinha, seu grupo político e a rádio do deputado, a 950 AM. E pelo segundo ano consecutivo errou a mão na maior festa da cidade.

Nem se trata de analisar o conteúdo. As últimas brigas entre Daniel e Camarinha têm mostrado verdades sobre os dois. O que cada um pensa do outro cada vez mais diz respeito apenas a eles dois – nunca é demais lembrar na eleição de 2012 a maioria do eleitorado rejeitou os dois grupos-.

Mas o prefeito que em 2017 colocou sucata para desfilar e transformou o evento em ataque político repetiu a dose neste ano e mais uma vez fez a festa de aniversário como prefeito de direito para toda a cidade mas de fato para apenas parte dela.

Cidadãos que apoiem ou gostem de Camarinha foram automaticamente taxados como defensores do mal, da decadência e da desesperança. Não importa o quão certo ou errado isso esteja, não é a mensagem oficial do aniversário da cidade, é uma mensagem política que tem hora e local melhor para isso.

Daniel teria mais a falar da cidade e de seus feitos – por mais que Camarinha não goste, Daniel tem dados a mostrar – inclusive se a questão era focar na herança maldita do rombo. Teria mais a responder sobre os grandes desafios – salários, mobilidade, água, esgoto, sustentabilidade, ciclovias, atração de empregos, relação com entidades, educação, saúde – sem transformar o aniversário da cidade em palanque ou desabafo pessoal.

Camarinha, embora não seja alvo de nenhum “vem pra rua” (e ainda tenha apoio de dose dos manifestantes que participam dessas manifestações), acumula um histórico de condenações, acusações e erros de gestão que custaram e vão custar à cidade no futuro.

Mas a discussão sobre sua atuação tem hora e lugar na Justiça, na eleição, nas reuniões de eleitores, nos sindicatos ou associações. Não no palanque do aniversário da cidade. O ex-prefeito e deputado virou, sem pedir, personagem numa festa da qual deveria ser espectador.

O modelo político e a agressividade que destrói pessoas e ataca pessoas é uma das heranças nefastas de Camarinha. Daniel perde a chance mais importante de seu mandato em mudar esse jogo.

Transformar a festa dos 89 anos em um debate entre a luz e trevas que teria Daniel de um lado e Camarinha do outro apequena a festa e apequena a cidade. Repito: interessa cada vez menos à cidade o que um pensa do outro.

Entre os ataques dos dois lados estão uma cidade com rombo financeiro e prioridades no mínimo discutíveis com o dinheiro que sobra; um político colecionador de processos,  problemas históricos que se arrastam, uma gestão que ignora relação mais direta com o cidadão e força erros com meias verdades. Marília merece mais. É maior e melhor que tudo isso.